Vinte e oito rapazes tomam banho na praia,
vinte e oito rapazes e todos muito amigos;
vinte e oito anos de vida feminina e todos tão sós.
Ela tem uma linda casa junto à colina da margem,
esconde-se, bela e ricamente vestida, por detrás dos estores.
Qual desses rapazes é que ela prefere?
Ah, o mais rústico de todos parece-lhe belo.
Para onde vais, senhora? pois estou a ver-te,
chapinas ali na água, mas estás imóvel no teu quarto.
A dançar e a rir ao longo da praia apareceu a vigésima nona banhista,
os outros não a viram, mas ela viu-os e amou-os.
As barbas dos jovens reluziam e a água escorria-lhes pelos longos cabelos,
pequenos jorros escorriam dos seus corpos.
Uma mão invisível deslizou pelos seus corpos,
desceu trémula pelas fontes e pelos membros.
Os rapazes flutuam de costas com os seus ventres brancos protuberantes
ao sol, não perguntam quem se agarra a eles com tanta
firmeza,
não sabem quem respira e se inclina curvando-se como um arco,
não pensam quem salpicam com a espuma.
Por Walt Whitman in Folhas de Erva, Relógio d’Água, abril 2010, tradução de Maria de Lourdes Guimarães, página 48