No barco apercebemo-nos, tu e eu,
do rasto que as baleias deixam,
o grande anel que os seus mergulhos desenham
durante algum tempo na superfície.
Será assim quando nos
perdermos um ao outro? Não sei
nem posso saber. Mas
quero acreditar que
quando não pudermos mais
atravessar uma sala
para um abraço, quando não pudermos
mais cair nos braços um do outro,
haverá sempre isto:
algum traço que se demora
enquanto o corpo enorme
permanece em baixo, sem se ver,
uma sombra escura e gigantesca,
um golpe de barbatana,
um corpo de deleite
a mergulhar para o fundo.
por Marjorie Saiser traduzido por Luís Filipe Parrado in A única maneira de esquecer a beleza, Língua Morta, novembro 2022, página 295