Tu existes
porque uma tarde
o teu avô desceu à cave
para escolher batatas.
Ouviu tiros, gritos.
Assustado, escondeu-se até ao anoitecer.
Quando voltou
não encontrou ninguém.
Era março.
As cerejeiras no jardim escuro
estavam atentas.
Ele tinha acabado de fazer sete anos.
Eu sei, diz o meu filho de seis anos.
É por isso que na minha escola
fazemos simulacros. Quando o sino toca
o nosso professor tranca a porta da sala de aula.
Nós escondemo-nos atrás das mesas.
Não nos movemos, não falamos.
Façam de mortos, diz o professor. Então eu finjo.
Todos nós fingimos
estar mortos.
tradução de Jorge Sousa Braga