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Retrato da estrella que guiou o filho prodigo na volta á casa paterna por José de Almada Negreiros

Retrato da estrella que guiou o filho prodigo na volta á casa paterna por José de Almada Negreiros

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Na praia uma menina perguntou-me se eu era rico. Estava de gatas e muito longe, a perguntar-me se eu era rico.

* * * * *

Todas as manhãs ia brincar com os vizinhos para a sombra da egreja.
Depois do almoço a sombra era do outro lado.

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Quando as meninas corriam no jardim, os cabellos e os vestidos ficavam para traz.

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A rapariga das laranjas tinha uma linda voz para vender laranjas. As pessoas ficavam co’as laranjas na mão a ouví-la.

* * * * *

A larangeira ao pé da nóra já me conhecia—punha-se a fingir que era o vento que a fazia mexer.

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Acho mais sinceros os dias de chuva. Nos dias em que chove ponho­me a pensar que não sou eu só que vivo arreliado. Depois, o cheiro da terra molhada é que me faz de novo animar.

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Ás vezes ponho-me a pensar em coisas que eu nunca vi. Naturalmente só ha muito longe, nas outras terras!

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Estou a espera de ser grande para ver se o que eu penso é verdade ou não. Se não fôr, mato-me!

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Gósto mais dos bois de barro que dos bois verdadeiros.

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O gabão do jardineiro era forrado d’azul!

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A rosa encarnada cheira a branco.

* * * * *

Quando vejo o côr-de-rosa parece que se referem a mim.

in A invenção do dia claro

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