Submersa pela neblina matinal, a cidade encanta e surpreende. É um amplo espaço de liberdade, sentimento a galopar pelas margens do rio até nele se perder.
A maré vazou. Gaivotas repousam nas areias da foz da Ribeira da Granja, em Lordelo do Ouro, que foi terra de homens do mar, pilotos, mestres e contramestres, capitães de navios, calafates e carpinteiros.
No seu estaleiro, o mais importante do Porto à época, que ficava na extensa praia entre a Arrábida e a Cantareira, construíram-se importantes embarcações, caravelas, galés e naus, para os Descobrimentos e Conquistas Portuguesas.
Às vezes a História emerge das funduras do rio, principalmente quando a solidão e a neblina descem sobre mim e um perfume a maresia se instala na atmosfera e no sedutor despertar da natureza.
Há dias em que aconchegado por um manto de algodão, o rio se torna melancólico, abranda o seu eterno caminhar e serenamente, vai refletindo sobre a sua história.
Eu vi a manhã a sorrir à espera do sol.
Manuel Araújo da Cunha (Rio Mau, 1947) é autor de romances, crónicas, contos e poesia. Publicou: Contos do Douro; Douro Inteiro; Douro Lindo; A Ninfa do Douro; Palavras – Conversas com um Rio; Fado Falado – Crónicas do Facebook; Amanhecer; Barcos de Papel; Casa de Bonecas e Crónicas de outro Mundo.
Uau … muito lindo o texto e belíssima foto do lugar! Gratidão Manuel Araújo da Cunha por tanta beleza exposta a nós!