A dama tinha um vestido
de seda cor-de-púrpura
e a sua túnica bordada de oiro
era composta por duas peças
que se ligavam no ombro
Os olhos dançando como anjos
Ria ria
Tinha um rosto com as cores da França
Olhos azuis dentes brancos e lábios muito vermelho
Tinha um rosto com as cores da França
O seu decote era redondo
e com um penteado à la Récamier
com belos braços nus
Nunca mais escutaremos soar a meia-noite
A dama do vestido
de seda cor-de-púrpura
e túnica bordada de oiro
com decote redondo
passeava os seus anéis
o seu cinto de oiro
e arrastava os sapatinhos de fivela
Era tão bela
que nunca ousaria amá-la
Eu amava as mulheres atrozes dos bairros enormes
onde todos os dias nascem novos seres
O ferro era o seu sangue a chama o seu cérebro
Eu amava o hábil povo das máquinas
O luxo e a beleza não são mais que a sua espuma
Essa mulher era tão bela
que me metia medo
versão para português de Jorge Sousa Braga in O século das nuvens, Hiena Editora, 1989, página 38