Senhor,
não te ofendas.
Não há nada como o orgulho
contra a sede, as miragens,
e as tempestades de areia!
E eu devo dizer
que para enfrentar e ultrapassar
estes áridos dramas do deserto,
duas bossas
não são demasiado,
nem tão pouco um lábio arrogante.
Algumas pessoas criticam
as minhas quatro patas,
as nodosidades das minhas articulações,
mas como é que faria
com tacões altos,
para atravessar tantos países,
tantos sonhos inconstantes,
e proteger a minha dignidade?
O meu coração atormenta-se
com os gritos dos chacais e das hienas,
com o silêncio ardente,
com a magnitude das suas estrelas frias.
Dou-te graças, Senhor,
por este meu reino,
espaçoso como os meus sonhos
e a largura dos meus passos.
Carregando a minha realeza
na curva aristocrática do meu pescoço
de oásis para oásis,
um dia será que vou encontrar de novo
a caravana dos magos
e as portas do Teu paraíso?
tradução de Jorge Sousa Braga in Animal Animal, Assírio & Alvim, fevereiro 2005, página 48