Para Ivar e Astrid
Há uma casa de madeira
na planície de Oklahoma.
Todas as noites a casa se transforma
numa ilha do mar Báltico,
pedra caída do céu da fábula.
Polida pelos olhares de Astrid,
acesa pela voz de Ivar,
a pedra gira lentamente na sombra:
é um girassol e arde.
Um gato,
oriundo de Saturno,
atravessa a parede e desaparece
entre as páginas de um livro.
A erva tornou-se noite,
a noite tornou-se areia,
a areia tornou-se água.
Então
Ivar e Astrid levantam arquitecturas
– cubos de ecos, formas sem peso –
que às vezes se chamam poemas,
outras desenhos, outras conversas
com amigos de Málaga, México
e outros planetas.
Essas formas
caminham e não têm pés,
olham e não têm olhos,
falam e não têm boca.
O girassol
gira e não se move,
a ilha
acende-se e apaga-se,
a pedra
floresce,
a noite fecha-se,
o céu abre-se.
A aurora
molha as pálpebras da planície.
in Antologia poética, Círculo de Leitores, março de 1991, organização e tradução de Luís Pignatelli, página 114