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Abutres por Margaret Atwood

Abutres por Margaret Atwood

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Suspensas além no cálido
branco do meio-dia, cinza escura
na corrente de ar da chaminé, rodando
lentamente como um polegar pressionando
o alvo: Vês indolentes, moscas, até que caem.

Então são hienas, roucas
à volta do cadáver, agitando os seus
guarda-chuvas negros, viúvas de olhos vermelhos
cheias de penas cujas panças violam o luto,
o riso abafado nos funerais
o arroto no velório.

Agrupam-se, como besouros
depositando os seus ovos na carne putrefacta,
ávidos por um espaço, um pequeno
território de crime: comida
e filhos.

Velho santo desgrenhado, calvo
e bafiento, recluso de pescoço
descarnado na tua coluna
de ar quente, que não é
o paraíso: que é que fazes
da morte, que não causas,
que comes todos os dias?

Eu faço vida, que é uma oração
faço ossos limpos
faço um ruído de zinco cinzento
que para mim é uma canção.

Bem, coração, de tanta
morte, podias tu fazer melhor?

in Animal Animal, Assírio & Alvim, fevereiro 2005, página 18, tradução de Jorge Sousa Braga

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