A mulher sentada no terraço tem uma imagem
à sua frente. Só ela a vê, enquanto o sol da manhã
(ou será o sol da tarde?) a ilumina como se fosse
um fruto que amadurece com o vagar do verão.
Não sei como irá ficar este terraço quando ela
se for embora, deixando a cadeira encostada
ao muro. O sol será o mesmo, mas a sua ausência
tirar-lhe-á todo o sentido, todo o seu calor.
A manhã (ou será a tarde?) continuará
à espera que ela regresse, se volte a sentar
na cadeira e volte a olhar para a imagem
à sua frente, a imagem que só ela vê.
E nessa manhã (talvez nessa tarde) a mulher
descrever-me-á essa imagem que só ela vê,
a paisagem de um campo que os seus pés
pisaram, e aquele mar que o céu pintou de azul.
Nuno Júdice in Uma colheita de silêncios, Publicações Dom Quixote, julho de 2023, página 49