Homenagem aos mineiros do Chile
que dormem, singelo,
pelo sistema de “a cama quente”
Na mina trabalha-se por turnos.
Quando se volta, nem se tiram os coturnos.
Bebido o café negro e trincado o casqueiro,
joga-se o corpo ao sono, mas primeiro,
enxota-se o camarada da cama ainda quente,
que não há camas, no Chile, pra toda a gente.
Do calor que sobrou o nosso se acrescenta
pra dar calor ao próximo que entra.
Vós, que dormis em camas, como reis,
tantas horas por dia, não sabeis
como é bom dormir ao calor de um irmão
que saiu ao nitrato ou ao carvão
e despertar ao abanão (é o contrato!)
de um que chega do carvão ou do nitrato!
É este sistema, minha gente,
que se chama no Chile “a cama quente”…
in in Poesias completas & dispersos [A saca de orelhas], Assírio & Alvim, março 2017, página 387