Que milagre, em novembro, o liquidâmbar.
Que espessa algaravia de cores
perante a qual, em busca de um nome,
a linguagem se desespera. Como
se ergue, bandeira de alegria
no meio das sombras finais do outono.
Mas se o celebro aqui não é apenas
por essas pinceladas de beleza
é também, e sobretudo,
porque sabe ser fiel ao seu destino
desempenhando o seu papel de liquidâmbar
sem confundir o mundo,
sem procurar a sua felicidade em mais nada,
sem nunca se perguntar como um ser humano mesquinho
se valem a pena
onze meses de vida obscura,
anónima entre todas as árvores do rio,
por duas ou três semanas de milagre.
in Las cosas de la vida, Editorial Renacimiento, agosto 2024, antologia poética, edição de Cristina Ferradás, página 312, tradução PML