A noite quis dar-me uma surpresa
e, ao despertar, o mundo apareceu
transfigurado: neve!
Recobertos
da brancura e silêncio, os montes, os caminhos,
os ramos despojados da nogueira
e os contentores do lixo,
tudo era diferente, novo, como
se a vida fosse recomeçar.
Mas de tudo isso
o que mais me comoveu profundamente foram
– talvez porque de um modo misterioso
falassem de mim mesmo,
dos meus versos, não sei, da minha presença
no tempo –
as suaves
peugadas dos pardais no chão.
17-I-2015
in Las cosas de la vida, Editorial Renacimiento, agosto 2024, antologia poética, edição de Cristina Ferradás, página 288, tradução PML