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O retrato por Stanley Kunitz

O retrato por Stanley Kunitz

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A minha mãe nunca perdoou o meu pai
por se ter matado,
e logo num momento tão estranho
e num parque público,
naquela primavera
em que eu estava à espera de nascer.
Ela trancou o nome dele
no seu armário mais profundo
e não o deixaria sair,
embora eu o pudesse ouvir a bater.
Quando desci do sótão
com o retrato a pastel na minha mão
de um estranho de grandes lábios
com um bigode corajoso
e olhos castanhos profundos,
ela rasgou-o em pedaços
sem uma única palavra
e deu-me uma grande bofetada.
Mesmo agora com sessenta e quatro anos
consigo sentir a minha bochecha
ainda a arder.

tradução de Jorge Sousa Braga

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