Inês Lourenço
Não precisa de respiração assistida / para o ar lhe circular entre os vocábulos. Nem / jaz inerte e horizontal numa febre letárgica / que lhe impõe caminhos
Daniel Filipe (1925-1964)
Um amor como este / não pede mar ou praia: / somente o vento leste / erguendo a tua saia.
Sofia Moraes (1963)
cabe a cada coisa seu lugar / e a linha que traça no ar / e merecer um olhar de criança / longe do hábito de / chamar-lhe verde
André Domingues (1975)
Chamei-lhe cabra e intempérie. / On the youth at night, diria / Anne Carson. / Na juventude, de madrugada / diria eu.
Raul Brandão (1867-1930)
passavam a vida à espera dos homens, enquanto as mãos ágeis iam tecendo ternura e espuma do mar…
Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004)
Com voz nascente a fonte nos convida / A renascermos incessantemente / Na luz do antigo Sol nu e recente / E no sussurro da noite primitiva
João Saraiva (1866-1948)
Há corações felizes / Que rápido se esquecem! / Esses não envelhecem... / São os ingratos — dizes.
José Manuel Teixeira da Silva (1959)
É um anexo da morada branca / para lá da sucessão das naves / Em rigor, errámos apenas de transparência / em transparência, até às cúpulas quebradas de cristal
Aurelino Costa (1956)
Vêm de um canto da sala, / as vozes e eu / vejo-as salubres sombras / nos altares / enquanto um caracol / nas paredes corre
Manuel Araújo da Cunha (1947)
Presos nas amarras / inventamos horizontes / Quem me leva / ao corpo do rio / e a morrer dentro dele
José Alberto de Oliveira (1945)
Por mais que o vento / sopre lá fora // o leite e o mel resplendem / nos ângulos da cozinha.
Alexandra Malheiro (1972)
Tantas vezes que me apetece / matar as palavras ou / ficar quieta num canto à espera / que elas me matem.