Dentro desta garrafa cabe o mar.
Dentro desta garrafa
cambaleia o céu,
cambaleia o sol de bêbado
com a sua verdade às costas,
com a maré das suas amarguras.
Dentro desta garrafa bailam moscas
como helicópteros bombardeados,
passeiam baratas com guarda-chuvas.
Dentro desta garrafa chove ausência.
A sua parede giratória desfigura os meus rostos,
curva-me a expressão, abre-me as pupilas:
há tempestades de golpes no seu magma.
Dentro desta garrafa está o vazio
de que me encho quando bebo e bebo.
Abandonada para a reciclagem,
eu sou esta garrafa.
por Ángel Guinda traduzido por Diogo Vaz Pinto in Os ossos do meu duplo, Língua Morta, outubro 2021, página 50