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A sombra sou eu de Almada Negreiros

A sombra sou eu de Almada Negreiros

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A minha sombra sou eu,
ela não me segue,
eu estou na minha sombra
e não vou em mim.
Sombra de mim que recebo a luz,
sombra atrelada ao que eu nasci,
distância imutável de minha sombra a mim,
toco-me e não me atinjo,
só sei do que seria
se de minha sombra chegasse a mim,
Passa-se tudo em seguir-me
e finjo que sou eu que sigo,
finjo que sou eu que vou
e não que me persigo.
Faço por confundir a minha sombra comigo:
estou sempre às portas da vida,
sempre sempre às portas de mim!

in Poemas escolhidos, Assírio & Alvim, reimpressão novembro de 2016, página 142

Variante do mesmo poema:

A minha sombra segue-me
e eu vou na minha sombra
e não em mim.
Sigo-me:
Sou a minha sombra que me segue a mim.
Sombra de mim que recebo a luz.
Sombra atrelada a quem lhe tira o sol.
Conservo a distância que vai da minha sombra a mim,
toco-me e não me atinjo.
O único que sei é o que eu seria
se de minha sombra eu chegasse a mim.
Passa-se a realidade na minha imaginação
e eu finjo admiravelmente que existo.
Finjo que sou eu que vou e não que me persigo.
Confundo inteiramente a minha sombra comigo.
E a ilusão é total:
chego a julgar-me alguém!
Tão presente me sinto que creio que sinto que estou presente.
Mas de repente a verdade dói:
Eu só serei eu depois!
Existo de imaginar-me:
Estou sempre às portas de vida!
Estou sempre às portas de mim!

in Poemas escolhidos, Assírio & Alvim, reimpressão novembro de 2016, página 223

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