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Frederico Martinho, 32 anos

Frederico Martinho, 32 anos

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O SOM de fundo desta conversa começa naquela que foi a primeira das influências que ele me transmitiu, e que tanto me inspira ainda hoje: Dave Matthews Band. De repente, apercebo-me claramente da dificuldade de escrever sobre alguém que pertence tanto a nós mesmos, mas o carinho exige-me a atenção cuidada para vos mostrar o meu primeiro amigo Fred.

(acompanhar estas palavras com esta música)

Com 32 anos, a sua história musical exige um princípio, que acontece aos 13 anos, num aniversário de amigos dos pais, em que viu lá a primeira banda a tocar ao vivo, ainda que duma forma muito amadora. A sedução pela guitarra foi imediata e sentiu um apelo instantâneo para que começasse a tocar. “Era o que havia”, pois reconhece agora que gostava de ter sido trompetista. Apercebeu-se também do poder aglutinador da música, ao ver o amigo dos pais a reunir e a juntar tanta gente à sua volta a cantar e a sorrir, sempre que decide ir buscar as memórias através das canções.

Num fim de ano, os pais cederam aos seus pedidos e deram-lhe a primeira guitarra, que ainda guarda com carinho. Foi assim que, aos 14 anos, começou a tocar, um início um pouco tardio, mas que nunca o deixou parar. O primo João Pedro (Pais) deu o primeiro empurrão para a aprendizagem, dando-lhe algumas noções medulares, e ainda frequentou umas aulas sem grandes concretizações, mas foi outro amigo Fred que lhe deu as maiores bases, elementares para a fundamentação da sua arte. Aprendeu muito, principalmente sozinho, treinando o seu ouvido e o seu ofício, com a maior das dedicações. Confessa que nunca se deu muito bem com o aspecto académico da música, talvez por falta de capacidades ou de empatia, mas que sempre teve vontade de saber como se fazia, para desempenhar à sua maneira. No fundo, queria encontrar o seu caminho, ou a sua maneira de elaborar a música.

Da mesma forma, começou a tocar ao vivo muito tarde, focando o seu processo de aprendizagem no contexto de improviso de garagem, onde declara que ainda hoje se descobre. Começou com as covers ou versões de músicas já conhecidas, sempre com o objectivo de as talhar para que tivesse o seu ponto de vista. As primeiras experiências de banda foram também comigo, onde estudávamos os sons, sempre com o empenho de fazer à nossa mercê.

Sentindo as imposições académicas, decidiu fazer o curso de Turismo e Gestão Hoteleira, algo que nunca seguiu. Esta foi a altura em que sentiu mais vontade de fazer música duma maneira profissional e, por isso, mal saiu do curso, foi estudar música na escola JB Jazz, que era mesmo ao lado da sua faculdade. Ali teve o primeiro contacto com o instrumento jazz e as noções daquilo que queria evoluir, também notando o desejo de fazer acontecer, já que sabia que não era novo para começar a aprender. Esteve 2 anos nessa escola e seguiu-se a experiência de 1 ano e meio no Hot Club Portugal, onde revela que foi bom para “levar na cabeça” e perceber com os grandes.

Pragmático como se define, denuncia que acabou por sair do Hot Club pela necessidade emergente em ganhar dinheiro e lutar pela sua vida. O facto de ter sido academicamente mediano nunca o fez abrandar, já que reconhece que foi ali que conheceu as pessoas com quem actualmente se relaciona pessoal e profissionalmente, influências directas para o seu trabalho, diferentes, mas sempre muito motivadoras. Ainda assim, conta que gostava de voltar a estudar música com um envolvimento que nunca teve, excluindo a preocupação em pagar contas e outros assuntos mais obrigatórios.

Durante todo o seu percurso, teve a sorte de se rodear das pessoas que mais o inspiram, tocando com a família que escolheu e que o acolheu, nunca se esquecendo de lutar. As suas colaborações são sempre carregadas de empatia emocional e o Fred confessa que, mais do que tocar bem, essa é a mais-valia da música que faz. Foi desta maneira que iniciou o primeiro laboratório de Funk D’Jam, uma escola de energia contagiante, onde conheceu e elaborou relações com muitas pessoas influentes na sua estrada, num espaço onde experimentavam músicas dos seus heróis. Tomou a decisão musical consciente de se afastar do Blues que o dominava, tentando expandir o vocabulário que era limitado, mas nunca se esquecendo da emoção, da espontaneidade e da capacidade de entrega e de explosão acertada.

Com o tempo, apercebeu-se que a sua música começou a desbloquear atitudes, aproximando-o de pessoas e amigos, como o Filipe Balestra, que sabe ter sido um grande impulsionador para o seu ofício. Ao mesmo tempo, refere que as suas influências primárias se centram no Luís Cardoso, o amigo dos pais, nas nossas primeiras bandas e nas que mantém actualmente, nunca preterindo o primo João Pedro Pais, cujo trabalho respeita pela autenticidade que inspira, referindo que ele também lhe abriu portas a contactos diferentes e à abertura de consciência, fundamentando os valores.

Além disso, inspira-se no blues de Jimi Hendrix, Eric Clapton e Stevie Ray Vaughn. Descobriu, mais tarde, o funk de Nils Landgren, o soul de D’ Angelo e o álbum de Roy Hargrove (ou RH Factor) que lhe mudou a vida, Hardgroove. Centra Soulive como a sua grande ingerência, estudando intimamente estas bases para fundar a sua própria banda Groove 4tet (ver aqui e aqui), algo que o define na totalidade, na conduta e na entrega, pela música simples com complexidade. Teve também a oportunidade de agradecer aos músicos de Soulive, uma característica que preza pela possibilidade de homenagear aqueles que o inspiram, por ter orgulho das suas raízes e querer celebrá-las. Actualmente integra também o projecto HMB, de soul bem feito e em português, algo que lhe enche o peito de vaidade das boas.

Como valores, ele distingue que quer ser sempre merecedor das coisas importantes para a sua vida. Para isso, tenta manter-se sempre em contacto com essas considerações, tentando merecer a amizade, a música, o dom e o ofício do instrumento que escolheu tocar. E, de cada vez que o olho, lembro a primeira vez em que ele me emocionou com a sua música, um blues de coração aberto e que me garantiu que ele só podia ser aquilo que é hoje, um músico de mão cheia.

Há uns tempos ouvi que todos possuímos um pouco de quem conhecemos como uma parte de nós. Esta é uma das minhas inspirações maiores, o meu irmão a quem estou eternamente grata, o Fred pequeno mas com um talento gigante, principalmente no coração que carrega consigo.

P.S. Um obrigada sincero à mãe dele (e um pouco minha) Cecília Martinho, que me ensinou o que era música, e à paciência do Carlos. Obrigada pelo carinho com que sempre me acolheram como se fosse parte da vossa família, uma verdadeira filha que nunca vos esquece!

Por Raquel Caldevilla publicado in http://raquelcaldevilla.blogspot.pt/

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