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Papel químico por Marin Sorescu

Papel químico por Marin Sorescu

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Durante a noite, alguém vem colar na minha porta
um pedaço gigantesco de papel químico.
Tudo o que estiver a pensar passa de imediato
para o outro lado da parede.

Pessoas curiosas de todos os lugares
chegam aos magotes, ouço as solas dos seus sapatos
a levantarem os degraus que vão dar ao meu apartamento
e, à saída,
a assentarem-se de novo.

São aves de todas as espécies,
cães de quintas lunares,
transições, corredores de floresta e
velhas acácias que
sofrem de insónia.

Põem óculos e
lêem-me, ficam comovidas ou
ameaçam-me de punhos cerrados,
tudo depende, pois eu tenho uma
ideia nítida acerca de tudo.

Só da minha alma
é que nada sei.
Da minha alma que continuamente
se me escapa por entre os dias,
como um sabonete
no banho.

Marin Sorescu (Roménia, 1936-1996), in Lacrau, traduções e versões de poesia de Vasco Gato, Língua Morta, janeiro de 2021, página 92

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