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Pedro Seabra (1997)

Pedro Seabra (1997)

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4.
à noite os candeeiros parecem
vergar. as estradas viscosas, frias
e húmidas a contorcer-se,
parecem tocar as entranhas
do céu que arrebenta e que acende algum
rastilho feroz, sem medida e oculto.

3.
o tempo penetra o limiar
das sombras, trepando os troncos mansos
e os ramos delgados,
vergando a estrutura deste mundo
para culminar numa alvorada
de abismos repletos de almas fúteis
que dançam à tona do universo
e indiferentes nos revestem.

2.
aqui, no silêncio espectral,
os teus pensamentos são os meus
e banham raízes de carvalhos
amaldiçoados
e abandonados num mar de cinza.
e não haverá maior tristeza
do que alimentar
os mortos
na sua transformação magna.

1.
à noite os candeeiros parecem
vergar. as estradas viscosas, frias
e húmidas a contorcer-se,
parecem tocar as entranhas
do céu que arrebenta e que acende algum
rastilho feroz, sem medida e oculto. 

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