7.
AOS HOMENS NO CAIS
Plantados como árvores no chão
ao alto ergueis os vossos troncos nus
e o fruto que produz a vossa mão
vem do trabalho e transparece à luz
Nenhum passado vale o dia-a-dia
Sonho só o que vós me consentis
Verdade a que de vós só irradia
– Portugal não é pátria mas país
6.
Está hoje um dia de vento e eu gosto do vento
O vento tem entrado nos meus versos de todas as maneiras e
só entram nos meus versos as coisas de que gosto →
5.
Mas que sei eu das folhas no outono
ao vento vorazmente arremessadas
quando eu passo pelas madrugadas
tal como passaria qualquer dono? →
4.
A tua voz edifica-me sílaba a sílaba
e é árvore desde as raízes aos ramos →
3.
No teu amor por mim há uma rua que começa
Nem árvores nem casas existiam
antes que tu tivesses palavras →
2.
Trinta dias tem o mês
e muitas horas o dia
todo o tempo se lhe ia →
1.
Na minha juventude antes de ter saído
da casa de meus pais disposto a viajar
eu conhecia já o rebentar do mar
das páginas dos livros que já tinha lido →
Ruy Belo nasceu em 27 de Fevereiro de 1933 em S. João da Ribeira, Rio Maior. Entrou na Faculdade de Direito em Coimbra, tendo concluído o curso em Lisboa, em 1956. Em 1958, doutorou-se em Direito Canónico, em Roma. Publicou o primeiro livro em 1961, ano em que abandonou a Opus Dei. Em 1967 concluiu a licenciatura em Filologia Românica. Foi Leitor de Português em Madrid e, em 1977, já em Lisboa, deu aulas no ensino secundário. Morreu em Queluz, em 8 de Agosto de 1978.