PARA inaugurar esta coluna de “cultura tipográfica geral”, não poderia escolher outro tipo de letra que não a Helvetica.
Muitos conhecem, seguramente, o popular tipo de letra sans-serif que completa este ano 60 anos de vida.
Em 1957, os tipógrafos Max Miedinger e Eduard Hoffmann, do estúdio Haas’sche Schriftgiesserei (Munchenstein, Suíça) tinham como objectivo desenhar um tipo de letra para competir com o tipo germânico Akzidenz-Grotesk. A nova família tipográfica teria de se reger por atributos como racionalidade, facilidade de leitura e ser desprovida de quaisquer significados associativos, quer culturais, socio-económicos, ou de género. Nascia assim a Neue Haas Grotesk, família que hoje conhecemos como Helvetica.
Helvetica tornou-se incontornável na história do design gráfico, quer pela sua proliferação e popularidade ao longo de 60 anos, quer pela forma como foi recebida por “todos” os criativos gráficos nas décadas de 50 e 60. Este sucesso e aceitação imediatos ditou que se tornasse num símbolo do modernismo e da história visual da escola suíça do design.
Ao longo das últimas seis décadas, Helvetica tem feito parte das nossas vidas sob a forma de subtis variações criadas para marcas como Lufthansa, 3M, BMW, Jeep, Nestlé ou a antiga imagem corporativa da companhia de aviação American Airlines. Este tipo de letra pisca-nos o olho sempre que ligamos a televisão para ver a versão inglesa da série The Office, ou nos deparamos com um cartaz de cinema de Little Miss Sunshine. E faz com que todos aqueles que viajam até Nova Iorque saibam perfeitamente em que estação de metro precisam sair, ou que linha seguir para chegar ao seu destino.
Devido à sua utilização ser tão abrangente e de tão fácil leitura, está “instalada por defeito” na maioria dos computadores a nível mundial. E, por isso, é muito provável que ainda hoje se encontre, por diversas vezes, com este tipo de letra – numa apresentação no emprego, num formato publicitário ou numa embalagem no linear do supermercado a caminho de casa.
A propósito da amplitude da utilização deste tipo, o designer Massimo Vignelli dizia no documentário de Gary Hustwitt a propósito do mesmo “Podemos dizer I Love You em Helvetica, e escolher corpo Extra Light se quisermos ser super elegantes, ou podemos escolher Extra Bold se quisermos ser super intensos e irá funcionar na mesma. Também consigo pensar em algumas cartas onde escreveria I Hate You em Helvetica… é um tipo de letra que funciona para tudo“.
Por Tiago Pinto