O ARTISTA Alberto Carneiro, que hoje morreu aos 79 anos, foi um dos nomes que mais “abriram novos caminhos para a prática artística em Portugal”, na segunda metade do século XX, depois de ter começado como santeiro.
O artista Alberto Carneiro morreu hoje aos 79 anos no Hospital de S. João, no Porto, onde estava internado, disse à Lusa fonte próxima da família.
Alberto Carneiro foi um dos nomes que mais “abriram novos caminhos para a prática artística em Portugal”, na segunda metade do século XX. Nasceu a 20 de setembro de 1937, em São Mamede do Coronado, concelho da Trofa, distrito do Porto, local ao qual se manteve ligado durante toda a vida.
Alberto Carneiro nasceu a 20 de setembro de 1937, em São Mamede do Coronado, concelho da Trofa, distrito do Porto, local ao qual se manteve ligado durante toda a vida e onde iniciou a aprendizagem como escultor com um santeiro, num ofício que desenvolveu até ter ido trabalhar por conta própria, aos 17 anos de idade.
Quando tinha sete anos, o pai, surrador numa fábrica de curtumes, decidiu levá-lo à Póvoa de Varzim, a mais de 20 quilómetros de distância, de bicicleta, para que pudesse ver o mar pela primeira vez, como relatou em entrevista ao Público, em 2013.
“Foi um grande impacto. Ficar diante daquela imensidão… O movimento e o som do mar… Impressionou-me muito”, disse, na mesma entrevista, à jornalista Anabela Mota Ribeiro.
No Porto, frequentou o ensino noturno na Escola Soares dos Reis, para onde ia de bicicleta, antes de perceber que “também não era aquilo que procurava”.
Alberto Carneiro voltou anos mais tarde à cidade para estudar na então Escola de Belas Artes, já com 24 anos, onde se licenciou em 1967 e veio a vencer o prémio nacional de escultura em 1968, ano em que partiu para Londres.
“Mais do que a habilidade de santeiro, tinha atrás de mim aquilo a que chamo a disciplina do ofício, que ganhei na oficina. Nas Belas-Artes nunca tive dificuldades de aproveitamento e fui sempre correspondido relativamente ao esforço que fazia. Não tive qualquer frustração nesse plano e tive todos os motivos para ter uma elevada autoestima. Ainda assim, e sem saber porquê, também a Escola de Belas-Artes não me satisfazia”, afirmou, em março de 2011, ao investigador Francisco Cardoso Lima, que o entrevistou no âmbito do doutoramento.
Em Londres, estudou sob Anthony Caro e Philip King, de acordo com a biografia disponível na página de antigos alunos da Universidade do Porto, que acrescenta que o artista foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, entre 1975 e 1976, já depois de ter começado a dar aulas de Escultura nas Belas Artes do Porto.
Entre 1972 e 1985, Alberto Carneiro foi diretor pedagógico e artístico do Círculo de Artes Plásticas da Universidade de Coimbra, tendo, a partir de 1985 e até 1994, dando aulas na Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto.
A Fundação de Serralves, no texto sobre uma exposição realizada em 2013, escrevia que o trabalho de Alberto Carneiro – um dos artistas que mais “abriram novos caminhos para a prática artística em Portugal” – se havia desenvolvido numa “singular relação entre a arte e a natureza”, em que toda a sua produção artística “se confunde com a sua própria vida e com as reminiscências do meio onde nasceu e cresceu e se descobriu como artista e criador”.
Publicado in DN