AMÉRICO Amorim, o homem mais rico de Portugal, morreu nesta quinta-feira. O empresário tinha 82 anos e uma fortuna avaliada em 4,4 mil milhões de dólares (mais de quatro mil milhões de euros). A morte não foi uma surpresa para a família, uma vez que Américo Amorim foi operado seis vezes ao coração nos últimos anos e teve apoio médico permanente em casa ao longo dos últimos meses, disse ao PÚBLICO uma fonte da família.
O funeral realiza-se no sábado de manhã (10h30) no Mosteiro de Grijó, no concelho de Vila Nova de Gaia, revelou à Lusa fonte do Grupo Amorim. No mesmo local, realiza-se o velório nesta sexta-feira entre as 13h e as 22h.
Américo Amorim fez carreira no sector da cortiça, sendo considerado por muitos o maior empresário português, ao lado de Belmiro de Azevedo (dono da Sonae, proprietária do PÚBLICO).
O negócio de família, em que ingressou aos 18 anos depois de terminar o Curso Geral do Comércio, deu-lhe espaço para crescer. Fundou com os irmãos a Corticeira Amorim, onde se fez “rei da cortiça”. Mais tarde, diversificou os seus investimentos e dedicou-se também à energia, ao turismo e às finanças.
A sua fortuna avaliada em mais de quatro mil milhões de euros garantiu-lhe o 385.º lugar na lista das pessoas mais ricas do mundo de 2017 (elaborada pela revista norte-americana Forbes), posicionando-se à frente do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Para além de Américo Amorim — que, entre 2016 e 2017, aumentou a sua fortuna em cerca de 280 milhões de euros — apareciam ainda dois outros nomes portugueses na lista: Alexandre Soares dos Santos e Belmiro de Azevedo.
No ano passado, depois de mais de seis décadas, o empresário passou a liderança do Grupo Amorim à filha mais velha, Paula Amorim, assim como a liderança da Galp, a maior exportadora nacional. A herdeira, que fez o seu próprio percurso no mundo dos negócios, recebeu o testemunho sem sobressaltos, sendo, por isso, que muitos analistas não vêem a morte de Américo Amorim como um risco para o império empresarial que deixa.
Américo Ferreira de Amorim nasceu em Mozelos, Santa Maria da Feira, a 21 de Julho 1934 – estava, portanto, a poucas semanas de completar 83 anos. Era comendador desde a década de 1980: a 24 de Novembro de 1983 foi agraciado com a Ordem Civil do Mérito Agrícola e Industrial Classe Industrial. A 30 de Janeiro de 2006 foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique.
Foi dos poucos empresários com ligações entre os dois mundos: antes e depois do 25 de Abril. Se antes do 25 de Abril era um franco-atirador que fazia negócios com a Rússia, acabaria depois da Revolução por se meter em tudo e a ganhar dinheiro.
“Uma personalidade de muito trabalho”
O empresário e antigo banqueiro Jorge Jardim Gonçalves recordou ao PÚBLICO a relação que tinha com Américo Amorim: “Conheci-o nos anos 80, na constituição da SPI, quando o Banco Português Atlântico decide dar apoio a este projecto”. “Mais tarde, Américo Amorim convidou-me para liderar o processo de constituição de um banco comercial, o que eu aceitei. Mas foi ele que encabeçou a iniciativa”, lembra.
“No BCP ele sempre respeitou os princípios que nortearam a constituição do banco. E nunca nos zangámos, nem houve divergências estratégicas. Aliás, um dia ele apareceu com um grupo de investidores estrangeiros que me informaram que queriam dominar o BCP. E logo que saíram, o senhor Américo Amorim ligou-me dizendo que concordara com a minha posição, de oposição, e que os estrangeiros não compreendiam a nossa estratégia. E nunca tomou nenhuma iniciativa, no BCP, que destruísse valor”, relata ainda o antigo presidente do BCP.
“É uma personalidade de muito trabalho, de muito sentido de família, com a mulher sempre a apoiá-lo. Com grande capacidade de definição estratégica, de preservar e de resistir a dificuldades. É justo lembrar que foi um grande empresário e um bom investidor”, conclui Jardim Gonçalves.
Também Carlos Rodrigues, presidente do banco BIG, recordou ao PÚBLICO um “grande cavalheiro, um humanista e um empresário de primeira linha”: “Sempre gostei muito do senhor Américo Amorim. O que me ocorre dizer é que ele era um grande cavalheiro, um humanista e um empresário de primeira linha e, como português, orgulho-me de ter sido seu amigo”, diz, recordando ainda a humildade e a defesa dos interesses de Portugal. “Era um homem sem vaidade, que levou uma vida sempre a defender os interesses de Portugal e a manutenção dos centros de decisão em Portugal. Era um empresário livre, com as qualidades que um grande empresário deve ter.”
“Conheci o sr. Américo Amorim há muitos anos, quando fui ministro [1995] e adorava falar com ele a sós, pelas histórias que me contava e pelo que podia aprender”, declarou Jorge Coelho, ex-ministro das Obras Públicas e da Administração Interna e ex-presidente da Mota Engil.
O dirigente socialista confessa que ainda retém uma frase que ouviu a Américo Amorim e “que nunca” esquecerá: “A base do meu sucesso foi ter desde bem cedo viajado muito por todo o mundo.’” Uma ideia que o empresário iria repetir quando comemorou os 50 anos de actividade numa cerimónia no Norte, onde Jorge Coelho esteve presente. “Era sem dúvida um homem da globalização” num tempo em que viajar não era habitual. Jorge Coelho acrescenta que Américo Amorim “era um grande homem com qualidades humanas, alguém que se tornou o maior empresário em Portugal.”
Publicado in PÚBLICO