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D. António Francisco dos Santos (1948-2017)

D. António Francisco dos Santos (1948-2017)

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O BISPO do Porto, D. António Francisco dos Santos, morreu esta segunda-feira, aos 69 anos, vítima de enfarte agudo do miocárdio, na Casa Episcopal do Porto, onde residia.

D. António Francisco dos Santos completou 69 anos recentemente, a 29 de Agosto. Estava na diocese do Porto desde Fevereiro de 2014, quando sucedeu a D. Manuel Clemente. Quem o conhecia, destaca a bondade e o seu empenho na denúncia das desigualdades sociais e económicas.

Na sua primeira homilia como bispo do Porto, em 2014, disse: “Os pobres não podem esperar”. Na última, este sábado, em Fátima, defendeu a construção de uma “igreja bela, como uma casa de família“.

A notícia da morte, avançada pela Renascença, foi confirmada em nota da diocese do Porto.

O funeral está marcado para as 15h00 de quarta-feira, na Sé do Porto.

O director do secretariado diocesano das Comunicações Sociais, cónego Jorge Duarte, revelou que, “de acordo com os médicos”, que ainda assistiram o bispo, esta manhã, na Casa Episcopal, D. António Francisco dos Santos foi vítima de “um enfarte agudo do miocárdio”. O óbito foi confirmado às 9h41.

O corpo do bispo do Porto estará em câmara ardente na Sé do Porto a partir das 17h00 desta segunda-feira, até à meia-noite.

Na terça-feira, os restos mortais de D. António Francisco continuarão na Sé, que estará aberta ao público entre as 9h00 e as 24h00.

Na tarde desta segunda-feira, o Cabido da Sé vai reunir-se para decidir que assume a administração da diocese até que o Papa nomeie um novo bispo para o Porto.

De Cinfães ao Porto

Natural de Tendais, concelho de Cinfães, foi ordenado bispo em 2005, depois de, no ano anterior, ter sido nomeado bispo auxiliar de Braga por João Paulo II. Dois anos depois, em 2006, Bento XVI nomeou-o bispo de Aveiro, diocese onde esteve mais tempo: praticamente oito anos.

D. António esteve para ser advogado, mas contrariou a vontade da família e formou-se em Teologia no Seminário Maior de Lamego, em 1971.

Estudou, depois, Sociologia Religiosa e Filosofia, em Paris. Na capital francesa, trabalhou na paróquia de S. João Baptista de Neuilly-Sur-Seine, onde assumiu a responsabilidade pastoral da comunidade portuguesa emigrante. Foi ordenado padre em Dezembro de 1972.

De regresso a Portugal, foi professor no seminário de Lamego e, de 1992 a 1998, foi chefe de redacção do jornal diocesano “Voz de Lamego”. Em 2004, foi nomeado vigário geral da diocese e também deu aulas no Instituto Superior de Teologia do Núcleo Regional das Beiras, da Universidade Católica Portuguesa.

Chegou à liderança da diocese do Porto em Fevereiro de 2014. Sobre a cidade, diria, em Julho deste ano, na Renascença: “o Porto não é um monumento, é alma, vida e gente”.

Gostava de caminhar para contactar e ouvir as pessoas e era adepto do Futebol Clube do Porto, mas evitava ouvir os relatos dos jogos porque ficava “muito nervoso”, disse numa entrevista à agência Lusa.

Na Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) era, actualmente, o presidente da comissão episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana, depois de ter estado vários anos à frente da comissão episcopal Vocações e Ministérios.

“Os pobres não podem esperar”

A atenção aos mais frágeis é uma das marcas que D. António Francisco dos Santos deixa como homem da Igreja. Este ano foi escolhido para ser o presidente da comissão episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana.

Tanto em Aveiro como no Porto deu sempre uma atenção especial, por exemplo, ao sem-abrigo, com que passou noites de Natal. Em Novembro de 2016, na mensagem que divulgou a propósito do Jubileu das Pessoas Sem Abrigo, lembrou aos fiéis do Porto que era preciso “sair da indiferença para ir ao encontro dos que sofrem as mais variadas formas de pobreza, isolamento ou exclusão”.

Porque era preciso passar das palavras aos actos, deixou um apelo “à sociedade civil, às autarquias e ao próprio Estado para encontrarem respostas estruturais e soluções definitivas que tirem estas pessoas das ruas”.

Na sua primeira homilia como bispo do Porto, em Abril de 2014, D. António Francisco dos Santos lembrou que há necessidades que não podem esperar como a alimentação, a saúde, a habitação e os recursos mínimos: “Onde estiverem em causa os pobres, os que sofrem, que sejam os primeiros. Os pobres não podem esperar.”

No ano seguinte, em entrevista à Renascença, reforçava estas ideias. Alertava para a necessidade de “uma luz no fundo do túnel” e de “caminhos novos” alternativos à austeridade. “A experiência que vivemos, de um esforço de austeridade muito intenso sem se ver no horizonte próximo os resultados, muitas vezes pode ter levado muitos de nós a desanimar e a perder a confiança”, disse.

Nessa entrevista, afirmava que o Papa Francisco diz que a experiência católica não pode ser feita através “apenas de teorias, nem apenas de convicções, nem apenas de doutrina. Temos de exercitar na experiência diária da nossa vida aquilo em que acreditamos. Mais acção e sobretudo melhor acção.”

De novo, a “atenção aos mais pobres”. “É para eles que a Igreja mais deve trabalhar: na aproximação aos que estão desempregados, aos jovens que não têm futuro, aos que não têm casa, aos sem-abrigo, aos que são marginalizados, a este mundo imenso de refugiados, e de proscritos dos seus países que morrem, como as crianças na Síria. Tantos milhões de pessoas que vivem vítimas da violência, da guerra.”

Pelas pontes, contra os muros

Mostrou-se atento aos grandes dramas da actualidade. Preocupava-o a vaga de refugiados e a forma como a Europa os acolhe.

Na mensagem que divulgou para o Natal de 2016, D. António lembrava que a alegria da época festiva estava “manchada pelo sangue derramado em Paris, Nice, Ancara ou Berlim” e também pelo conflito que destruía Alepo, na Síria, defendendo, porém, que o Natal é oportunidade de reacender a chama do amor de Deus no coração dos homens.

Depois da eleição de Donald Trump como Presidente dos Estados Unidos, em Novembro de 2016, D. António Francisco dos Santos afirmou que a proposta de construção de um muro entre os Estados Unidos e o México é uma “ofensa à dignidade humana e aos direitos fundamentais da dignidade humana”.

“Devemos todos saber levantar a nossa voz contra essa ofensa à humanidade e com esse ultraje à dignidade das pessoas que com paz, com honestidade, com seriedade querem construir o seu futuro no país que os acolheu”, acrescentou, afirmando que o século XXI devia ser feito de pontes e não de muros.

O contacto com os jovens foi outra das preocupações do bispo do Porto, que esteve muitos anos à frente da Comissão Episcopal das Vocações e Ministérios e também ligado à da Educação Cristã e Doutrina da Fé. Em busca de outras pedagogias de evangelização, foi dele a ideia de importar do Brasil a Cristoteca, quando a diocese de Aveiro fez 75 anos, levando “tendas cristãs” com música às praias.

D. António Francisco dos Santos dizia que “não compete à Igreja educar “nem para o medo, nem para a proibição”.

Publicado in Rádio Renascença

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