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António Nobre (1867-1900)

António Nobre (1867-1900)

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11.
Ó virgens que passais, ao sol-poente,
Pelas estradas ermas, a cantar!
Eu quero ouvir uma canção ardente
Que me transporte ao meu perdido lar…

Cantai-me, nessa voz omnipotente,
O sol que tomba, aureolando o mar,
A fartura da seara reluzente,
O vinho, a graça, a formosura, o luar!

Cantai! cantai as límpidas cantigas!
Das ruínas do meu lar desaterrai
Todas aquelas ilusões antigas

Que eu vi morrer n’um sonho, como um ai…
Ó suaves e frescas raparigas;
Adormecei-me n’essa voz… Cantai! 

10.
BLANCHE NEIGRE

Em sonhos, vi-me de repente, frio,
Amortalhado, n’um lençol funereo,
E caminhando, à luz do luar sombrio,
Em direcção d’um vasto cemiterio.

Ia deitado, n’um caixão estreito,
Em um esquife de cristal doirado:
Levava as mãos erguidas sobre o peito,
E lagrymas no olhar, meio cerrado…

Mas ao chegar, emfim, ao Campo Santo,
Quando o Coveiro me atirou á valla,
Vi desdobrar-se, como por encanto,
Não sei que doce e misteriosa falla.

E ao escutar aquella voz amiga,
Eu descerrei o olhar, humido e franco,
E vi uma formosa rapariga,
Uma loira visão, toda de branco…

Fitei-a… E vendo-a tam gentil, tam nova,
Disse-lhe, então, com uma voz de arminho:
«Vem tu comigo repousar, na cova,
Que eu tenho medo de ficar, sosinho…»

Ella sorriu… E ao vel-a, silenciosa,
Eu exclamei, num tom vibrante e forte:
«Vem: sê a minha noiva, a minha esposa…
Que és tu?» E ella respondeu: «A Morte».” 

9.
Vê acolá, erguidas sobre a areia,
Casitas brancas, ou torreões de linho,
Onde se escondem corpos de sereia,
Mais brancos do que o arminho!

8.
Os astros virginais, as límpidas estrelas
Que eu vejo reluzir nas amplidões do ar! 

7.
Tombou da haste a flor da minha infância alada.
Murchou na jarra de oiro o pudico jasmim: 

6.
Meus dias de rapaz, de adolescente,
Abrem a boca a bocejar, sombrios: 

5.
Ai d’ aqueles que, um dia, depuseram
Firmes crenças n’um bem que lhes voou! 

4.
Aqui, sobre estas águas cor de azeite,
Cismo em meu Lar, na paz que lá havia. 

3.
Vou sobre o Oceano (o luar, de doce, enleva!)
Por este mar de Glória, em plena paz. 

2.

E a vida foi, e é assim, e não melhora.
Esforço inútil. Tudo é ilusão. 

1.
Vaidade, meu amor, tudo vaidade!
Ouve: quando eu, um dia, for alguém, 

António Nobre (Porto, 1867- Figueira da Foz, 1900) matriculou-se em 1888 no curso de Direito na Universidade de Coimbra. Desistiu de Coimbra e partiu para Paris, onde frequentou a Escola Livre de Ciências Políticas. Licenciou-se em Ciências Jurídicas. De regresso a Portugal, a tuberculose impediu-o de iniciar qualquer carreira. Ocupou o resto dos dias em viagens, da Suíça à Madeira, em busca de clima onde recuperasse. Obra poética: “Só” (Paris, 1892), “Despedidas” (1902) e “Primeiros Versos” (1921). Em prosa: Cartas Inéditas de António Nobre (1934), Cartas e Bilhetes Postais a Justino Montalvão (1956), Correspondência (1967).
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