11.
Ó virgens que passais, ao sol-poente,
Pelas estradas ermas, a cantar!
Eu quero ouvir uma canção ardente
Que me transporte ao meu perdido lar…
Cantai-me, nessa voz omnipotente,
O sol que tomba, aureolando o mar,
A fartura da seara reluzente,
O vinho, a graça, a formosura, o luar!
Cantai! cantai as límpidas cantigas!
Das ruínas do meu lar desaterrai
Todas aquelas ilusões antigas
Que eu vi morrer n’um sonho, como um ai…
Ó suaves e frescas raparigas;
Adormecei-me n’essa voz… Cantai! →
10.
BLANCHE NEIGRE
Em sonhos, vi-me de repente, frio,
Amortalhado, n’um lençol funereo,
E caminhando, à luz do luar sombrio,
Em direcção d’um vasto cemiterio.
Ia deitado, n’um caixão estreito,
Em um esquife de cristal doirado:
Levava as mãos erguidas sobre o peito,
E lagrymas no olhar, meio cerrado…
Mas ao chegar, emfim, ao Campo Santo,
Quando o Coveiro me atirou á valla,
Vi desdobrar-se, como por encanto,
Não sei que doce e misteriosa falla.
E ao escutar aquella voz amiga,
Eu descerrei o olhar, humido e franco,
E vi uma formosa rapariga,
Uma loira visão, toda de branco…
Fitei-a… E vendo-a tam gentil, tam nova,
Disse-lhe, então, com uma voz de arminho:
«Vem tu comigo repousar, na cova,
Que eu tenho medo de ficar, sosinho…»
Ella sorriu… E ao vel-a, silenciosa,
Eu exclamei, num tom vibrante e forte:
«Vem: sê a minha noiva, a minha esposa…
Que és tu?» E ella respondeu: «A Morte».” →
9.
Vê acolá, erguidas sobre a areia,
Casitas brancas, ou torreões de linho,
Onde se escondem corpos de sereia,
Mais brancos do que o arminho!
8.
Os astros virginais, as límpidas estrelas
Que eu vejo reluzir nas amplidões do ar! →
7.
Tombou da haste a flor da minha infância alada.
Murchou na jarra de oiro o pudico jasmim: →
6.
Meus dias de rapaz, de adolescente,
Abrem a boca a bocejar, sombrios: →
5.
Ai d’ aqueles que, um dia, depuseram
Firmes crenças n’um bem que lhes voou! →
4.
Aqui, sobre estas águas cor de azeite,
Cismo em meu Lar, na paz que lá havia. →
3.
Vou sobre o Oceano (o luar, de doce, enleva!)
Por este mar de Glória, em plena paz. →
E a vida foi, e é assim, e não melhora.
Esforço inútil. Tudo é ilusão. →
1.
Vaidade, meu amor, tudo vaidade!
Ouve: quando eu, um dia, for alguém, →