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Ruy Belo (1933-1978)

Ruy Belo (1933-1978)

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7.
AOS HOMENS NO CAIS

Plantados como árvores no chão
ao alto ergueis os vossos troncos nus
e o fruto que produz a vossa mão
vem do trabalho e transparece à luz

Nenhum passado vale o dia-a-dia
Sonho só o que vós me consentis
Verdade a que de vós só irradia
– Portugal não é pátria mas país

6.
Está hoje um dia de vento e eu gosto do vento
O vento tem entrado nos meus versos de todas as maneiras e
só entram nos meus versos as coisas de que gosto 

5.
Mas que sei eu das folhas no outono
ao vento vorazmente arremessadas
quando eu passo pelas madrugadas
tal como passaria qualquer dono? 

4.
A tua voz edifica-me sílaba a sílaba
e é árvore desde as raízes aos ramos 

3.
No teu amor por mim há uma rua que começa
Nem árvores nem casas existiam
antes que tu tivesses palavras 

2.
Trinta dias tem o mês
e muitas horas o dia
todo o tempo se lhe ia

1.
Na minha juventude antes de ter saído
da casa de meus pais disposto a viajar
eu conhecia já o rebentar do mar
das páginas dos livros que já tinha lido 

Ruy Belo nasceu em 27 de Fevereiro de 1933 em S. João da Ribeira, Rio Maior. Entrou na Faculdade de Direito em Coimbra, tendo concluído o curso em Lisboa, em 1956. Em 1958, doutorou-se em Direito Canónico, em Roma. Publicou o primeiro livro em 1961, ano em que abandonou a Opus Dei. Em 1967 concluiu a licenciatura em Filologia Românica. Foi Leitor de Português em Madrid e, em 1977, já em Lisboa, deu aulas no ensino secundário. Morreu em Queluz, em 8 de Agosto de 1978.

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