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Marília Miranda Lopes

Marília Miranda Lopes

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MAGNITUDE

Assim os meus nervos
Em socalcos nos veios
Assim o cingir da pulsação
No vestido que aperta

Ergue-se a Suprema
A que no Reino fortalece
A fragilidade dos pulsos

Uma arquejante
prece em vitral
corre sem vidraça
vegetação adentro
Ecoa no xisto argiloso
Nos muros navalhados

A tórrida tarde pede chuva
o éter, a doçura
xarope e frutos libertados

É no desprendimento
que fica sulcada
a magnitude. 

4.
CAIS

Deslocam-me no cais
as embarcações do tempo

Fico parada num ranger
de espaldas e marinhagem
no ar atordoado das pedregosas
onde medra o generoso

Rogam-me
vasilhas de versos vinhateiros
enquanto meteorológico
Dionísio celebra
a singularidade

A vindima é uma mulher bacante
de mão decidida na anca
ofertando cachos de uvas 

3.
RELEVO

O ritmo dos movimentos
o olhar soalheiro
É com ele que me alinho na marcha
com gigos ao alto das costas

Será talvez o que suspende a tecnologia
talhado para a prova dura
sob a erupção

Em exercício sensual
desgovernado assoma
à varanda das montanhas

Do balcão assiste à labuta das mãos

um fio de suor
escorre das órbitas.

2.
PRELÚDIO

Este prelúdio
folhas passas cascas de pêssego

Meto um bago à boca
nas noites de lareira acesa

Noite lá fora
uma escuridão de socalcos
bichos revolvendo o mosto
do pensamento

À cabeça vêm capões
acender o meu lume, este instante

Chego do palco negro
aconchego-me
trinco rosários de figos

enquanto não abrem valados
no meu corpo. 

1.
PÉS DESCALÇOS

Pés descalços sobre o mosto
essências de segredo
química
na profundidade do lagar

Cânticos telúricos de arrepiar nervuras

Crentes os que celebram
a emancipação
o vinho novo
anunciação lançada sobre caves

Sob pés e pernas
o fruto
parido em suor
canções que Baco trará
depois das chuvas. 

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