MAGNITUDE
Assim os meus nervos
Em socalcos nos veios
Assim o cingir da pulsação
No vestido que aperta
Ergue-se a Suprema
A que no Reino fortalece
A fragilidade dos pulsos
Uma arquejante
prece em vitral
corre sem vidraça
vegetação adentro
Ecoa no xisto argiloso
Nos muros navalhados
A tórrida tarde pede chuva
o éter, a doçura
xarope e frutos libertados
É no desprendimento
que fica sulcada
a magnitude. →
4.
CAIS
Deslocam-me no cais
as embarcações do tempo
Fico parada num ranger
de espaldas e marinhagem
no ar atordoado das pedregosas
onde medra o generoso
Rogam-me
vasilhas de versos vinhateiros
enquanto meteorológico
Dionísio celebra
a singularidade
A vindima é uma mulher bacante
de mão decidida na anca
ofertando cachos de uvas →
3.
RELEVO
O ritmo dos movimentos
o olhar soalheiro
É com ele que me alinho na marcha
com gigos ao alto das costas
Será talvez o que suspende a tecnologia
talhado para a prova dura
sob a erupção
Em exercício sensual
desgovernado assoma
à varanda das montanhas
Do balcão assiste à labuta das mãos
um fio de suor
escorre das órbitas.→
2.
PRELÚDIO
Este prelúdio
folhas passas cascas de pêssego
Meto um bago à boca
nas noites de lareira acesa
Noite lá fora
uma escuridão de socalcos
bichos revolvendo o mosto
do pensamento
À cabeça vêm capões
acender o meu lume, este instante
Chego do palco negro
aconchego-me
trinco rosários de figos
enquanto não abrem valados
no meu corpo. →
1.
PÉS DESCALÇOS
Pés descalços sobre o mosto
essências de segredo
química
na profundidade do lagar
Cânticos telúricos de arrepiar nervuras
Crentes os que celebram
a emancipação
o vinho novo
anunciação lançada sobre caves
Sob pés e pernas
o fruto
parido em suor
canções que Baco trará
depois das chuvas. →