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Mais vale parecê-lo, que sê-lo

Mais vale parecê-lo, que sê-lo

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HÁ quase 100 anos, William Tait, no seu livro “The Birds of Portugal” (Londres, 1924), chamava à atenção para a importância ecológica do Estuário do Douro e para os atentados, então ali cometidos, com a caça descontrolada.

A caça foi proibida, vieram, nos anos 60, as extrações selvagens de areias, que também foram proibidas, nos anos 80 surgiram projetos loucos de construção no Cabedelo, tão loucos que caíram e, finalmente, no início do séc. XXI a área foi protegida com o estatuto de reserva natural local.

Mas nem todos perceberam nem percebem o valor (para a biodiversidade e para o turismo/economia) de uma área protegida entre Gaia e o Porto, e como isso deveria ditar opções de uso do espaço da reserva e dos espaços envolventes.

Urbanizações, construções diversas, lanchas rápidas no Douro, helicópteros, parapentes e drones no ar, piqueniques, cães à solta, fotógrafos de casamentos e, last but not the least, festivais de música.

Não adianta que os festivais de música tenham o “Sê-lo Verde” do Ministério do Ambiente, porque muitos decibéis são muitos decibéis e dezenas de milhar de pessoas e carros é muita confusão. Operações de greenwashing são técnicas conhecidas desde os anos 90, mas por muito que se esforcem, não lavam nódoas.

A opção por três dias de festa privada (Festival Marés Vivas, 20 a 23 de julho de 2018)) em desfavor de 365 dias de biodiversidade, de prazer, entretenimento e cultura para milhares e milhares de cidadãos é, quanto a nós, uma opção profundamente errada, que não tem em conta as convenções internacionais e a legislação nacional de defesa da biodiversidade e do ambiente em geral.

Por Nuno Gomes Oliveira, Munícipe de Vila Nova de Gaia desde 1956, publicado in Facebook

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