Todas as semanas responde na revista. Deita cartas e vê o futuro. As consulentes expõem e interrogam: enganam o marido, não esquecem o amante, querem um filho, saíram de casa e não estão arrependidas – o que lhes vai suceder, a sorte parece-lhes um bandido encapuçado, diga por favor, Maya, o que vêem as cartas…
As cartas vêem com olhos de infinita prudência, benditas sejam. O baralho não tem lances aleivosos, deita conselhos maternos: tente remediar esse mal, não provoque outros. Ela sabe que o seu ministério é uma tentativa desesperada para clarear o oculto, a batota é mínima e atilada. E acaba enviando «beijos» e «felicidades» para aquelas sofredoras, bem-haja.
No alto da página, vemos a cartomante emérita, uma mulher nova e arguta, ostentando uns honrados pingentes. Deveria ter um enormíssimo colar expedido pelo Grão-Mestre das Ordens. Porque ela só lida com agruras, e apazigua a sua sabedoria.
Por António Osório in A luz fraterna (Crónica da fortuna), Assírio & Alvim, setembro 2009, página 365.