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Jorge Palinhos (1977)

Jorge Palinhos (1977)

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Chegou num embrulho amassado, coberto de esferovite branca, que também poderiam ser confetti. O título é imponente, ainda que eu tenha tentado que o conteúdo fosse tão leve quanto possível. Trata-se da publicação em livro da parte principal da minha tese de doutoramento: “A Ação e o Poder no Drama Contemporâneo”. 
16. O que faz falta é dar ar à malta
Uma época interessante é aquela em que respirar é um assunto controverso. É o caso da nossa em que, por um lado, se quer impor máscaras em toda a parte, por outro, se acha que essas máscaras são uma sinistra conspiração para promover o consumo individual de dióxido de carbono.

15. Eu gosto de críticos e gosto da crítica. Foram tantos os críticos que me ajudaram a compreender melhor o que via, ouvia e lia, que me deram o vocabulário e a bagagem para fazer sentido do que experimentava e ajudaram-me a descobrir obras e autores que de outro modo não conheceria. 

14. A Confeitaria Serrana é um espaço lindíssimo, que tem dos melhores bolos do Porto a preços acessíveis, simpatia interminável, e onde se cruzam turistas, viajantes, operários, comerciantes, vizinhos e idosos, num cosmopolitismo local deslumbrante. E agora também está ameaçada de despejo, apesar de ser classificada loja histórica. Não há nada que possa travar a Lellização da cidade? 

13. Já me aconteceu muitas vezes escrever em cafés, por acidente ou necessidade de me sentir no meio de pessoas e vidas que não apenas a minha. Mas há umas semanas foi diferente: a associação Mezzanine convidou-me para fazer parte do seu projeto Meia Pensão, de residências artísticas em cafés do Porto. 

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12. Kierkegaard tem um texto muito bonito sobre uma pessoa que caminha só e repetidamente pelas mesmas ruas e pracetas anónimas de uma cidade que desconhece – as ruas que nenhum guia turístico descreve e as praças que nenhum mapa destaca – e desse modo descobre um lugar que só a si pertence e que não pode partilhar com mais ninguém. 

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11. É um facto de que as tiragens dos livros são cada vez mais pequenas: livros que antes se editavam aos milhares, editam-se hoje às centenas, quando não às dezenas. E numa altura em que as pessoas leem cada vez mais no ecrã, talvez o grande problema dos livros seja o de que pode ser confuso olhar duas vezes para a mesma página e as letras desta continuarem no mesmo sítio. 

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10. Há tanta gente a vivê-la dentro dos carros: dos passageiros que suportam a viagem banhados em páginas – como eu os invejo! – até aos condutores que acabaram de ler Guerra e Paz enquanto esperavam pelo semáforo verde; 

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9. Foi com uma professora da minha escola secundária que eu aprendi o que era a elegância. Não foi paixão minha, daquelas que fazem os alunos fixar intensamente professores distraídos, ou sensualidade dela, das que fazem os adolescentes agitarem-se atrás das mesas. 

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8. Como se fossem feitos de pedra e não de líquido e tecidos orgânicos. E, estavam pousados em mim, concentrando uma raiva acusatória que eu não conseguia compreender, se me tinha limitado a perguntar no balcão das informações quando partia o próximo autocarro para Bruxelas. 

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7. Pego da pena para falar da minha cidade, afinal é “noite de estreia”. Tento arrastá-la em movimentos contínuos e ela, teimosa, empanca na cidade de Palinhos, doce, trágica, nostálgica. 

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6. Por eu insistir em ignorá-lo o livro teimava em tossicar com ar furioso: dando a cada ranger de garganta a veemência de um insulto. 

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5. Há quem acredite – como Saramago – que a escrita começa nas nádegas e que só na posição sentada pode alguém escrever. 

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4. A mais injustiçada das grandes instituições portuguesas é a taberna. Durante séculos desprezada pela igreja, pelo estado, pelos livros, é na verdade a coluna dorsal da cultura portuguesa. 

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3. Rebentou uma discussão entre o homem atrás do balcão e o homem de costas dobradas que contava as moedas na mão curvada como um ninho. 

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2. Os livros encontrados 

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1. Os amantes frustrados 

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7 perguntas a Jorge Palinhos

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