O TÍTULO deste artigo refere-se à expressão em Inglês ‘Assistant Language Teacher’, uma das atividades preferidas pelos estrangeiros que vêm trabalhar no Japão, uma vez que nem sempre requer o conhecimento da língua local. Lecionando há mais de seis anos no país, também tive minha parcela de experiência como ALT: foi em 2011, quando lecionei em uma escola no bairro de Adachi, periferia de Tóquio.
Venho hoje, pois, falar dessa experiência. E, longe de tentar criar uma cartilha para quem deseja vir ao Japão para lecionar (mesmo porque outros professores estrangeiros, aqui, devem ter experiências diferentes), limitar-me-ei a expor algumas das dificuldades e alegrias que tive como ALT, em 2011.
Primeiro, as dificuldades:
1) O orgulho de muitos professores japoneses. O ensino de idiomas no Japão tem como raiz de sua deficiência justamente os métodos usados, sem grandes inovações, há anos incontáveis. Consiste em repetir e memorizar, não incentivando a criatividade. O ALT sabe disso, mas não pode influir ou opinar: o professor é o titular certificado, e jamais permitirá ser questionado. Assim, o melhor é não entrar em conflito. Esqueça, portanto, o ego, e somente se manifeste quando for chamado pelo professor – em geral, apenas para o exercício de pronúncia.
2) Em regra, como em toda jornada normal de trabalho, ficamos no local oito horas por dia. O problema é que, como nem sempre somos utilizados pelo professor titular, há muitos momentos inativos e, portanto, tediosos: especialmente porque sequer podemos sair do prédio por alguns minutos. É, enfim, muitas vezes, uma luta contra o relógio.
Agora, vamos ao que interessa: as alegrias de ser um ALT.
E tais alegrias devem-se basicamente a: os estudantes, os estudantes… e os estudantes. Sim, leitores, posso afirmar: para quem já foi professor nas agressivas salas de aula do Brasil, lecionar no Japão é um verdadeiro paraíso! Primeiro, porque os estudantes são extremamente respeitosos com os mestres (incluindo o ALT), comportando-se de uma forma muito cortês, até quando nos encontram fora da escola. Lembro, por exemplo, de uma situação que vivenciei após já haver terminado meu tempo como ALT em Adachi: eu estava com minha esposa, no trem, voltando para casa, quando dois estudantes, fardados, aproximaram-se e, curvando-se levemente, ao modo japonês, disseram-me: “Obrigado (Arigatou) pelo tempo que nos ensinou”. Perceberam? Eu já não era mais o ALT e, ainda assim, em vez de ignorarem-me, os dois jovens aproximaram-se, respeitosamente, para agradecer. Uma manifestação de gratidão que trago, até hoje, na memória e no coração. E que me fazem ter ainda mais a certeza de que, como professor, sou feliz de estar no Japão.
SOBRE O AUTOR:
EDWEINE LOUREIRO nasceu em Manaus (Amazonas – Brasil) em 20 de setembro de 1975. É advogado e professor de idiomas, residindo no Japão desde 2001. Premiado em concursos literários no Brasil e em Portugal, é autor dos livros “Sonhador Sim Senhor!” (2000), “Clandestinos” (2011), “Em Curto Espaço” (2012), “No mínimo, o Infinito” (2013) e “Filho da Floresta (2015), os dois últimos vencedores, respectivamente, dos Prêmios Orígenes Lessa e Vicente de Carvalho da União Brasileira de Escritores – RJ (UBE-RJ), em 2016. E, em setembro de 2017, seu livro, ainda inédito, “Crônicas de um Japão Caboclo” obteve, também pela UBE-RJ, o Prêmio Alejandro Cabassa. Mais recentemente, em outubro, também obteve a Menção Honrosa no Prêmio Miau de Literatura, com o livro “Trovas escritas no tronco de um bambu”.
Página para contato: https://www.facebook.com/edweine.loureiro