O TÍTULO da crônica nada mais é do que a pronúncia japonesa para o inglês “Merry Christmas” (Feliz Natal) ― o que já demonstra uma forte influência anglo-saxônica (mais precisamente dos presbiterianos norte-americanos) na tentativa da Terra do Sol Nascente em copiar uma celebração tipicamente cristã-ocidental. Pois, sim, o Natal no Japão é basicamente isto: um esforço da população local para imitar o Natal do Tio Sam ― que, como sabemos, tende mais para o consumismo do que para a religiosidade.
Aliás, para ser mais exato, no Natal japonês o significado religioso da data sequer é levado em consideração. É, em outras palavras, o Papai Noel dominando de ponta a ponta, sem espaço para o Menino Jesus. Dia 24? Esta data ― não se choquem! ― é, no Japão, para os namorados, que, todos os anos, fazem a alegria dos donos dos inúmeros moteizinhos que existem por aqui (conhecidos como “love hotels”). Sim, foi exatamente o que leram: a véspera de Natal no Japão é uma espécie de celebração fora de época do dia dos namorados (que aqui é em fevereiro). As famílias costumam só se reunir no ano novo, esta sim uma ocasião bem mais significativa para os japoneses.
E mais: 25 de dezembro sequer é feriado no país. Até o ano passado, a data sagrada era mesmo o dia 23, por ser o aniversário do Imperador. Mas, como o aniversariante abdicou do trono no ano passado, a festança foi eliminada em 2020. De modo que, atropelando o Natal, o presente ano laboral japonês ficará mesmo sem interrupções até o fim de dezembro.
Muitos podem pensar: deve ser difícil viver em um país em que o Natal tem tão pouca importância. Mas, creiam, já foi bem mais melancólico. Lembro-me do meu primeiro Natal, na cidade de Osaka, em 2001. Se não fosse por um canadense, que, improvisando uma “ceia” no restaurante em que eu fora jantar sozinho, chamou-me piedosamente a sua mesa, eu teria retornado para meu quartinho de estudante e passado o Natal mais triste de minha vida até então. Acho que Deus, com pena de minha solidão, enviou-me aquele anjo canadense: um completo desconhecido que, vendo minha tristeza de imigrante, chamou-me para a celebração ― num ato de solidariedade que traduzia muito bem a principal mensagem do Natal: a do amor pelo próximo.
Que neste Natal, portanto, a exemplo daquele canadense, haja mais mãos estendidas: no Japão e em todas as partes do mundo. E, mesmo sabendo que não podemos nos reunir para a ceia ou distribuir abraços, que possamos ser, ainda que através da internet, mensageiros da fraternidade e da esperança ― porque uma palavra amiga, sabemos, pode fazer a diferença, principalmente em um ano tão doloroso como tem sido 2020.
E aqui deixo a minha singela mensagem natalina: celebremos como nunca a beleza que é viver! Ergamos nossas taças, imaginárias ou não, e façamos um brinde, gratos por chegarmos vivos a mais um Natal… em um ano em que nem todos tiveram a mesma oportunidade.
Um feliz Natal, portanto, e um melhor 2021 a todos! Meri Kurisumasu!
EDWEINE LOUREIRO nasceu em Manaus (Amazonas-Brasil) em 20 de setembro de 1975. É advogado e professor de idiomas, residindo no Japão desde 2001. Premiado em mais de quatrocentos concursos literários no Brasil, na Espanha e em Portugal, é autor de nove livros, sendo o mais recente: “Crônicas de um latino sol nascente” (Telucazu Edições, 2020):
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