COMO toda megalópole, Tóquio possui áreas de grande movimentação e de intenso consumismo. É o caso dos distritos de Ginza, Marunouchi e Roppongi ― este último o tema da crônica de hoje. O nome, originado da aglutinação do numeral “rokku” (seis) e do substantivo “ki” (árvore), pode até remeter à ideia de um ambiente bucólico; mas o fato é que Roppongi é mesmo uma selva de pedra ― repleta de bancos, lojas e outras empresas; além de ser uma das áreas residenciais mais caras da cidade.
Talvez por ser esse espelho do frenesi capitalista, Roppongi não me atraia tanto. Até trabalhei lá, entre os anos de 2007 e 2009, quando fui consultor de Recursos Humanos; mas jamais pude afirmar que tive prazer de caminhar por suas vias. Tanto que, quando findava o meu dia de labor, tudo o que eu queria era sair do local o mais rápido possível, retornando a minha pacata Saitama: a irmã mais pobre de Tóquio, na qual tenho orgulho de residir desde 2005.
Porém, gostando ou não, o fato é que a subsistência de muitos trabalhadores na cidade de Tóquio (e adjacências) depende de Roppongi. Evitá-lo, desse modo, torna-se, pois, impensável. E, uma vez que Tóquio passa por Roppongi, falarei agora do seu mais famoso “ponto de encontro”, seja para negociantes ou meros transeuntes: uma escultura de dez metros (e pesando onze toneladas), denominada “Maman”, que está localizada em Roppongi Hills e é uma das seis reproduções da obra original: outras encontram-se na Inglaterra, na Espanha, na Coreia do Sul, nos Estados Unidos e no Catar.
Trata-se de uma aranha de metal gigantesca, que foi criada, em 1999, pela artista franco-americana Louise Bourgeois (falecida em 2010). Confesso que pouco sabia a respeito da artista; mas, recentemente, ao rever sua famosa escultura, decidi buscar mais informações. Foi quando descobri, pesquisando na internet, que Louise, tanto nas artes plásticas quanto na pintura, teve obras com características do denominado “expressionismo abstrato”: com temas centrados na infância e na morte.
Sendo, portanto, uma obra expressionista, Maman gera, claro, as mais variadas interpretações. Alguns, por exemplo, associam o gigantesco aracnacnídeo aos medos de sua criadora. Outros, ao empoderamento feminino. Mas o fato é que a obra é mesmo uma homenagem à mãe de Louise, representando a proteção e a nutrição; como revelou a própria artista em uma de suas raras entrevistas. E, realmente, basta nos posicionarmos debaixo da escultura para verificarmos que a associação da obra com a figura materna faz sentido: uma vez que no “ventre” de Maman há vinte e seis ovos de mármore.
Um bonito monumento à maternidade, enfim, com que Roppongi nos presenteia: enquanto, pacientemente, vai nos enredando nas teias do consumismo.
EDWEINE LOUREIRO nasceu em Manaus (Amazonas-Brasil) em 20 de setembro de 1975. É advogado e professor de idiomas, residindo no Japão desde 2001. Premiado em concursos literários no Brasil e em Portugal, é autor dos livros “Sonhador Sim Senhor!” (2000), “Clandestinos” (2011), “Em Curto Espaço” (2012), “No mínimo, o Infinito” (2013) e “Filho da Floresta” (2015), “Trovas escritas no tronco de um bambu” (2018) e “Gotas frias de suor” (2018). É também colunista do JORNAL EM DIA, no Brasil:
http://www.jornalemdia.com.br/categorias.php?p=16172
Parabéns pelo texto. Compartilho
Obrigado, querida Poeta Maura!
Obrigado, Poeta Maura! Abraços do Japão.
Muito interessante, Edweine. Tive a oportunidade de visitar uma dessas esculturas. De fato, impressionante. Abraços e obrigado pela crônica!
Obrigado, Andre, pelo carinho da leitura e do comentário. Um grande abraço do Japão!