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Obon

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TODO ano, em agosto, os japoneses dão uma pausa de três dias nas atividades laborais para prestar homenagens a seus mortos. Tal costume, que tem suas origens no Budismo, é conhecido como “Obon” (ou, simplesmente, “Bon”). Segundo a lenda, Maha Maudgalyayana, este um discípulo de Buda, ao descobrir que a falecida mãe estava atormentada no mundo dos “espíritos famintos”, pediu ao mestre que a libertasse. Foi quando Buda orientou ao discípulo que fizesse oferendas aos monges que se preparavam para o “descanso de verão”. Obtida a graça, Maha celebrou com uma dança: o que também explica o caráter festivo do Obon, que, ao contrário do melancólico e ocidental “Dia de Finados”, tem o propósito de receber com alegria aos espíritos que, segundo a crença, retornam em meados de agosto.

E, uma vez que agosto também é um dos meses mais quentes no Japão, um outro costume, com o passar do tempo, foi adicionado às celebrações de Obon: o de contar histórias de fantasmas e, assim, causar o “frio na espinha” que aplacaria o calor nessa época do ano.

E há de reconhecer-se que as histórias de terror japonesas fazem mesmo gelar a alma até dos mais céticos. Basta lembrarmos dos filmes nipônicos, muitas vezes (mal) copiados por Hollywood. Como esquecermos, por exemplo, de Sadako, a menina de cabelos longos de “O chamado”? Ou de Kuchisake-onna, a “mulher da boca rasgada”?

Porém, quando o assunto é Literatura, foi um irlandês de ascendência grega que deixou sua marca no Japão. Lafcadio Hearn (1850-1904) ― que, após naturalizar-se japonês, adotou o pseudônimo de Koizumi Yakumo ― foi o autor do mais famoso livro a compilar histórias de fantasmas da Terra do Sol Nascente, antes limitadas à tradição oral. O livro em questão é Kwaidan, publicado em 1904, e que, sessenta anos depois, inspiraria um filme indicado ao Oscar: coisa rara para o cinema de terror.

Sendo fã de histórias do gênero, Kwaidan foi, naturalmente, o primeiro livro que li quando cheguei ao Japão, em 2001. Um livro de terror, sim, mas em nada escatológico: ao contrário, caracterizado pelo lirismo e sutilezas que devem sempre compor a literatura fantástica de qualidade. Um exemplo disso é o conto “A dead secret” (“Um segredo morto”): nele, a falecida O-Sono retorna à casa para buscar a carta de amor que lhe fora escrita na adolescência. Temerosa de que o marido e o filho descobrissem tal segredo, O-Sono somente pôde descansar quando a carta foi queimada.

Assim é Lafcadio Hearn: um mestre em provocar o medo através de histórias que, aparentemente simples, tornam-se inesquecíveis: principalmente quando contadas em uma noite de Obon.

SOBNRE O AUTOR: EDWEINE LOUREIRO nasceu em Manaus (Amazonas-Brasil) em 20 de setembro de 1975. É advogado e professor de idiomas, residindo no Japão desde 2001. Premiado em concursos literários no Brasil e em Portugal, é autor dos livros “Sonhador Sim Senhor!” (2000), “Clandestinos” (2011), “Em Curto Espaço” (2012), “No mínimo, o Infinito” (2013) e “Filho da Floresta (2015), os dois últimos vencedores, respectivamente, dos Prêmios Orígenes Lessa e Vicente de Carvalho da União Brasileira de Escritores – RJ (UBE-RJ), em 2016. E, em setembro de 2017, seu livro, ainda inédito, “Crônicas de um Japão Caboclo” obteve, também pela UBE-RJ, o Prêmio Alejandro Cabassa. Foi também um dos autores premiados no Concurso de Poesia Agostinho Gomes, em Portugal, em 2017. Página para contato: https://www.facebook.com/edweine.loureiro

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