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Os Samurais da alegria

Os Samurais da alegria

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CHEGUEI ao Japão em outubro de 2001. E, no ano seguinte, assisti à primeira Copa a ser realizada na Ásia, tendo como as nações anfitriãs o Japão e a Coreia do Sul. Porém, o que pude notar, na época, foi que, ao contrário dos coreanos, a Terra do Sol Nascente não demonstrou o mesmo entusiasmo pelo maior evento do futebol ― tanto que, no jogo de abertura, entre França e Senegal, os canais de tevê priorizaram o jogo de beisebol que acontecia na mesma hora. E, quando parecia que a “febre da bola” não iria mesmo contagiar o país, os “samurais azuis” ― conhecidos assim, claro, em virtude da cor oficial de seu uniforme ― vencem as seleções da Rússia e da Tunísia e fazem com que o sempre contido povo japonês resolva, literalmente, mergulhar na alegria (numa emblemática cena em que novecentos torcedores, em Osaka, saltam de uma ponte rumo às águas do rio Dotonborigawa, enlouquecidos pela vitória sobre os tunisianos). Todos os novecentos sobrevivem, vale frisar, assim como o time na competição: pois os samurias azuis, em sua segunda participação em Copas (a primeira, em 1998), passariam para as oitavas de final. E, embora sucumbissem, nesta fase, diante dos turcos, a paixão pelo futebol já havia tomado conta da alma japonesa.

Desde então, o Japão não deixou de participar de nenhuma Copa. E, ainda que eu não veja no país a alucinação típica de outros povos, caso dos brasileiros ― que até decretam feriado nacional para assistir aos jogos da Seleção ―, o japonês, sim, também sabe vibrar com as emoções proporcionadas por uma Copa do Mundo. E, aqui ressalto um ponto que deveria ser seguido por outras torcidas mais agressivas: os japoneses encaram o evento como o que realmente é ― uma grande festa entre os povos. Sem provocar ou desrespeitar outros países; nem confundir um jogo de futebol com “ódio” e “patriotismo insano”.

Na Copa da Rússia, por exemplo, vi, a respeito desse sentimento fraternal, uma cena inspiradora: japoneses e senegaleses, em um bar em Tóquio, abraçando-se e cantando juntos, na hora do jogo. E, também nos estádios, a torcida vestida de azul foi flagrada pelas câmeras com uma alegria, diria, quase que pueril (e aqui, o adjetivo é, sim, um elogio). Alegria esta, aliás, acompanhada de uma educação que tem merecido os aplausos de todo o planeta. Como não se emocionar, por exemplo, com as imagens da torcida japonesa, ao final das partidas, levando sacos de lixo e limpando as arquibancadas? Dignos, enfim, de um prêmio “fair play”.

Por isso, em frente, samurais azuis! ― deseja aqui este fã. E, mesmo que não levantem a taça, o que importa? Vocês já são campeões nos corações de todos aqueles que, no futebol, não confundem diversão com “troça”, ou adversário com “inimigo”. Banzai!

SOBRE O AUTOR: EDWEINE LOUREIRO nasceu em Manaus (Amazonas-Brasil) em 20 de setembro de 1975. É advogado e professor de idiomas, residindo no Japão desde 2001. Premiado em concursos literários no Brasil e em Portugal, é autor dos livros “Sonhador Sim Senhor!” (2000), “Clandestinos” (2011), “Em Curto Espaço” (2012), “No mínimo, o Infinito” (2013) e “Filho da Floresta (2015), os dois últimos vencedores, respectivamente, dos Prêmios Orígenes Lessa e Vicente de Carvalho da União Brasileira de Escritores – RJ (UBE-RJ), em 2016. E, em setembro de 2017, seu livro, ainda inédito, “Crônicas de um Japão Caboclo” obteve, também pela UBE-RJ, o Prêmio Alejandro Cabassa. Foi também um dos autores premiados no Concurso de Poesia Agostinho Gomes, em Portugal, em 2017. Página para contato: https://www.facebook.com/edweine.loureiro

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2 COMENTÁRIOS

  1. Muito bom a sua crônica, Edweine! Teria sido lindo ter te encontrado nessa época no Japão. Morava aí e assisti aos jogos TurquiaXBrasil e BrasilXAlemanha. Achei a organização excelente. Amo o Brasil, mas sempre com saudades do Japão. Até o próximo reencontro, no Rio ou em outro lugar para o qual a literatura nos soprar. Abraços!

  2. Obrigado, querido irmão de letras, André! Fiquei muito feliz com o seu comentário. Pois é: estávamos no mesmo estádio em Brasil vs. Alemanha, em 2002. Mas, posteriormente, que bom, os caminhos da Literatura fizeram com que nosso encontro se realizasse duas vezes. E outras oportunidades virão, se Deus quiser. Abraços, querido amigo. E viva o Japão! Edweine.

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