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Semana de ouro

Semana de ouro

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TODO ano, na primeira semana de maio, os japoneses têm o esperado “Golden Week” (a “Semana de Ouro”), período este que aproveitam para o descanso e as viagens – agradecidos aos céus pela pausa que, na verdade, não se trata sequer de uma semana propriamente dita: mas de apenas TRÊS dias. Tal providencial descanso é o resultado da combinação de três feriados nacionais, a saber: no dia 3 de maio, homenageia-se o “dia da Constituição japonesa”; no dia 4, celebra-se o dia do “verde” (sim: uma data comemorativa em prol do meio ambiente); e, no dia 5, festeja-se o “Dia da criança” (que, em Portugal, ocorre em 1º de junho; e, no Brasil, em 12 de outubro). E não: eles não celebram o dia 1º de maio!

Para o trabalhador japonês ― que chega a passar até doze horas na empresa e, não raras as vezes, sacrificando o sábado ―, a semana de ouro é realmente um momento de alívio. Principalmente, se considerarmos que o direito ao descanso no Japão é praticamente “letra morta de lei”. Pois, apesar de o artigo 39 da Lei de Normas de Trabalho Japonesas prever que, se o empregado trabalhar seis meses contínuos (e comparecer a pelo menos 80% do período total de serviço), terá direito a ― pasmem! ― DEZ dias de férias anuais; na prática, a empresa faz com que o funcionário sinta-se até “culpado” por usufruir desse direito.

E isso ocorre porque, no Japão, há a ideia da necessidade de um total comprometimento com a empresa, a fim de que o funcionário goze o mínimo possível do descanso a que tem direito. O que verificamos, no dia a dia laboral, mesmo no horário de saída. Os chefes japoneses ficando até tarde, enquanto que os funcionários hesitam em retornar à casa antes que aqueles resolvam sair. Imagine, então, um pedido de férias? O empregado vai, tímido, implorar por uma semana de descanso; e o chefe (que finge não tirar férias) olha-o como se o trabalhador estivesse “traindo” os demais funcionários ― que, supostamente, ficariam sobrecarregados devido à ausência do companheiro.

De modo que não é de estranhar-se que os trabalhadores japoneses agarrem com unhas e dentes a chance da “semana de ouro”, fazendo o máximo possível da mínima liberdade que lhes é concedida. A maior parte, claro, devido ao limitado tempo, somente retorna à cidade natal para rever os familiares. Mas, quando calha de as três datas comemorativas serem seguidas pelo sábado e domingo, já vi até mesmo casos de excursões à Europa. Coisa do tipo: Portugal, Espanha e França… tudo em apenas cinco dias.

De modo que, no melhor estilo “The Flash”, vão nossos heroicos e incansáveis japoneses cruzando fronteiras e tentando ver o mundo em tempo recorde. Enquanto gritam: “Sim, mi señor, merci! Arigatô e… sayonara! No Japão, o trabalho nos espera!”.

SOBRE O AUTOR:
EDWEINE LOUREIRO nasceu em Manaus (Amazonas-Brasil) em 20 de setembro de 1975. É advogado e professor de idiomas, residindo no Japão desde 2001. Premiado em concursos literários no Brasil e em Portugal, é autor dos livros “Sonhador Sim Senhor!” (2000), “Clandestinos” (2011), “Em Curto Espaço” (2012), “No mínimo, o Infinito” (2013) e “Filho da Floresta (2015), os dois últimos vencedores, respectivamente, dos Prêmios Orígenes Lessa e Vicente de Carvalho da União Brasileira de Escritores – RJ (UBE-RJ), em 2016. E, em setembro de 2017, seu livro, ainda inédito, “Crônicas de um Japão Caboclo” obteve, também pela UBE-RJ, o Prêmio Alejandro Cabassa. Foi também um dos autores premiados no Concurso de Poesia Agostinho Gomes, em Portugal, em 2017. Página para contato: https://www.facebook.com/edweine.loureiro

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