ESTA crônica foi escrita na data de dezoito de junho de 2019, horas depois da apreensão vivenciada por nossa família em virtude de mais um terremoto ocorrido em regiões próximas a Saitama, onde resido. Na ocasião, o tremor ― de magnitude 6 na cidade de Niigata, e de 5, em Yamagata ― chegou a nossa casa, é verdade, com menor intensidade; mas o suficiente para assustar a minha esposa e eu: de tal modo que logo corremos para retirar o bebê do berço.

Felizmente, nosso prédio tem um bom alicerce, e, mesmo no trágico terremoto de 2011, não sofremos grandes danos (um ou outro objeto partido, apenas). O que não impede que, a cada pequeno tremor, não sejamos tomados por um grande medo de que algo pior possa acontecer. E, para aumentar o terror, poucos minutos antes de um terremoto, os celulares no Japão, automaticamente, sempre tocam uma música estarrecedora de alerta. Imagine o leitor, portanto, ser despertado pela madrugada com tal alarme, seguido imediatamente por um tremor na casa? Pois é, tal cena já ocorreu comigo várias vezes: mais precisamente desde que cheguei ao país em 2001…

A propósito, lembro-me bem da primeira vez que tive a experiência de um terremoto. Eu residia em Osaka, onde cursava o Mestrado. Estava em casa, tomando banho, no momento em que senti o primeiro tremor. Imediatamente, saí correndo e, tomado pelo pânico, por pouco não abri a porta da rua (que é uma das primeiras medidas aconselhadas em um terremoto: deixar a porta aberta), esquecido, porém, de cobrir-me com uma toalha: numa cena bizarra que, provavelmente, faria tremer ainda mais aos vizinhos, caso tivessem me visto naquela situação, digamos… escandalosa.

Narro aqui o ocorrido em um tom levemente cômico, mas a verdade é que um terremoto não tem absolutamente nada de divertido. Por isso, fico indignado quando ouço alguém fazer uma “piadinha” a respeito de terremotos. Como ocorreu, em 2011, com um “humorista” brasileiro ― assim mesmo, com aspas, para desqualificá-lo como tal ―, que debochando do tsunami resultante do terremoto, gerou a revolta até de seus compatriotas residentes no Japão: que fizeram, inclusive, um abaixo-assinado para que não lhe concedessem o visto para um show no país. E, pasmem, posteriormente, esse cidadão ainda ficou surpreso com a reação negativa a sua brincadeirinha de péssimo gosto. Aliás, como essa pseudocelebridade, muitos anônimos também costumam achar inofensivas as piadinhas sobre terremotos: rindo-se do sofrimento alheio como se fosse a coisa mais natural do mundo. E desrespeito, meus caros, não é e jamais será humor!

Assim, para todos que acham que brincar com uma tragédia tem graça, deixo aqui a dica: senti a terra tremer sob os vossos pés e continuai rindo… se podeis.

EDWEINE LOUREIRO nasceu em Manaus (Amazonas-Brasil) em 20 de setembro de 1975. É advogado e professor de idiomas, residindo no Japão desde 2001. Premiado em concursos literários no Brasil e em Portugal, é autor dos livros “Sonhador Sim Senhor!” (2000), “Clandestinos” (2011), “Em Curto Espaço” (2012), “No mínimo, o Infinito” (2013) e “Filho da Floresta” (2015), “Trovas escritas no tronco de um bambu” (2018) e, mais recentemente, pela editora alemã JustFiction! Edition: GOTAS FRIAS DE SUOR (Microcontos góticos, 2018). Página para contato com o autor: https://www.facebook.com/edweine.loureiro

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