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Lódão

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A UM LÓDÃO DA MINHA RUA

Ninguém tem corpo mais fino,
nem braços tão delicados
como este lódão
crescendo com vigor à minha porta.
Tenho com ele desvelos de namorado,
limpo-o de ervas daninhas,
rego-lhe a terra ao calor de Agosto,
alegro-me a cada rebento novo,
cada folha recente. Cresce e cresce
em esplendor, certo de ser amado.

Eugénio de Andrade in Rente ao Dizer, Assírio & Alvim, fevereiro de 2018, página 36

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(…) tinha em frente da varanda do meu quarto um lódão enorme, onde os pássaros me despertavam. (…)  o lódão foi sacrificado a maçarico aos deuses da Tecnologia – os donos da oficina de reparação de automóveis necessitavam de espaço para consertar viaturas na rua. Viva o Progresso e morram esses idiotas que pensam que uma árvore é mais importante do que um automóvel! (entrevista concedida a Helena Vaz da Silva (Expresso, 27/5/78)

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Num dos seus poemas diz que os homens merecem tudo. Acha que conseguiu aquilo que merece?
– Sei lá o que mereço. De qualquer modo quis sempre muito pouco. Queria uma árvore, uma árvore carregada de pássaros. Havia uma aqui na rua, mesmo em frente da janela do meu quarto, não havia estação que não passasse por ela, não havia ave que ali não pousasse para me despertar. Derrubaram-na para arrumarem mais automóveis. (…) Este país odeia as árvores: Quando não as arranca, deita-lhes fogo. É mais uma das suas virtudes. (entrevista concedida a Antónia de Sousa (Diário de Notícias, 1983)

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Aqui arrancam-se as árvores como se fossem ervas daninhas. Em frente da minha casa havia uma de ramagens vigorosas que me entravam pela varanda. Os pássaros, o que temos de mais próximo dos anjos, estavam ali de manhã cedo a lembrar-me  que, na minha poesia, os melhores versos lhes pertenciam. Arrancaram-na, e arrancaram outra ao lado, e outras mais adiante. A Câmara mandou arranjar os espaços para se arrumarem mais carros. (…) A estética camarária tem destas preferências. Sr. Presidente!: sou um cidadão que paga pontualmente os seus impostos, tenho direito a uma árvore em frente da minha porta em vez de um monte de lixo. Reclamo da Câmara, para me reconciliar com a cidade, uma árvore. E não quero uma árvore qualquer: exijo um jacarandá! Para que a sua flor me anuncie perpectuamente o Verão. (sobre a relação com o Porto, sem data)

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(…) Se falei de árvores com ácida melancolia é porque me derrubaram uma das que mais amei na vida, o velho lódão que me entrava pela varanda e dava notícia das estações. O móbil foi, naturalmente, atravancar a rua com mais automóveis (…). Levei anos e anos a lamentar-me, até que, não há muito ainda, numa cerimónia em que, surpreendentemente, me fizeram cidadão honorário do Porto, disse ao Presidente da Câmara que preferia uma árvore à porta do que a medalha de ouro da cidade, com que me distinguia e honrava toda a vereação. Ele prometeu-me outro lódão e cumpriu a promessa, deus seja louvado. Agora a casa onde moro é fácil de descobrir: tem um troncozito despido que lembra um poema meu, exíguo e desamparado. “A cidade de Garrett” (1993)

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(…) Não, não espero, se mudar de residência, vir a ter saudades da Rua Duque de Palmela, a não ser talvez do pequeno lódão que, gentilmente, a Câmara voltou a plantar-me à porta. (em entrevista dada pouco antes de mudar para o Campo Alegre)

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