Quando plana
rente às nuvens
a tarde adormece.
Por Francisco Duarte Mangas, in O noitibó, a gralha e outros bichos, Editorial Caminho, Setembro de 2009, página 40.
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A INOCÊNCIA tem um preço.
A maioria recusa pagá-lo.
Lá em cima, cortejando o sol, o milhafre vigia.
José Alberto Oliveira in Bestiário, Assírio & Alvim, março 2004, página 36
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I -ENCOSTA DO VALE (VALONGO)
1.
Céu limpo –
A galinha foge da sombra
a rondar o quintal
2.
Uma nuvem no céu –
O milhafre esconde-se
da própria sombra
II – NÓ DO FREIXO
1.
Pousado na estaca do arbusto
com um olho no trânsito
e o outro na presa
2.
Entre o nevoeiro
não se descobre
o milhafre
3.
O nevoeiro
faz descer o milhafre
ao cume do vidoeiro
4.
A ceifa terminou
O milhafre sobrevoa a autoestrada
à procura do que sobrou
5.
A queda da folha
descobre o milhafre
escondido na árvore
III – NÓ DA A4 EM MIRANDELA
Pousado no candeeiro
à espera que a presa
apareça
IV – VIADUTO SOBRE O RIO ESTE – A3
Suspenso sobre o vale
faz uma tangente
ao voo do milhafre
V – A29 NÓ DE ESTARREJA
Voar ao sabor do vento
para que a presa não se aperceba
da sua presença
VI – ESTAÇÃO DE ANTUÃ
No céu
a girar a girar
à espera de quem parar
VII – A1 NÓ A14 SENTIDO NORTE SUL
Sobre a mesma autoestrada
voas tu a cegonha
e o milhafre
VIII – NÓ ESPINHO A29+A41
O milhafre sobrevoa
a autoestrada
sem tocar nos ramos
IX – MONTE CALVO – ROMARIZ
Sobe a escada de caracol
sem tocar
num degrau
PML