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Os flamingos por Rainer Maria Rilke

Os flamingos por Rainer Maria Rilke

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1.
(Paris, jardin des plantes)

Imagens reflectidas, como de Fragonard
não dão mais do seu rubor e alvura
do que alguém te daria se dissesse
da sua amada: estava ainda toda

suave de sono. Pois quando para a relva
sobem e ficam, torcidos de leve sobre róseos caules,
juntos, floridos, como num canteiro,
mais sedutores que Frine se seduzem

a si próprios: até que o palor do olhar
pescoceando abrigam na própria maciez,
em que se oculta negro e coroado de frutos.

Súbito um grito de inveja atravessa o aviário;
eles, porém, admirados, estendem os colos
e caminham, um a um, para o imaginário.

in Poemas, As elegias de Duino e Sonetos a Orfeu, Oiro do Dia, setembro 1983, página 175, tradução Paulo Quintela

2.
Como uma imagem espelhada de
Fragonard, não deixam transparecer
da sua brancura e rubor mais
do que, quem dissesse da sua amada:

«Estava lânguida de sono». Pois
quando invadem a relva, torcidos
um pouco sobre o caule rosado,
como se fossem um canteiro de flores,

mais sedutores que Fryne, a si mesmos
se seduzem. E ocultam a palidez
dos olhos na brancura, onde
um fruto negro e rubro se esconde.

Gritos de inveja atravessam o pantanal.
Eles porém surpresos esticam o pescoço
e um a um penetram no irreal.

in Animal Animal, Assírio & Alvim, fevereiro 2005, página 88, tradução de Jorge Sousa Braga

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