Sapatos, a face secreta da minha vida interior:
duas bocas sem dentes,
duas peles de animais parcialmente decompostas
a cheirar a ninhos de ratos.
Meu irmão e irmã que morreram à nascença
prosseguem a sua existência em vós,
guiando a minha vida
em direção à sua incompreensível inocência.
Para que me servem os livros
quando se pode ler em vós
o Evangelho da minha vida na terra
e ainda o que está para vir?
Quero proclamar a religião
que concebi para a vossa extrema humildade
e a estranha igreja que estou a construir
em que sois o altar.
Ascetas e maternais, vós suportais:
descendentes de bois, santos, homens condenados,
com a vossa paciência muda, formais
a única verdadeira semelhança de mim mesmo.
tradução por PML