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A pantera

A pantera

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(No Jardin des Plantes, Paris)

O seu olhar, do repassar das barras,cansou-se tanto que já nada retém.É como se houvesse um milhar de barrase para lá das barras nenhum mundo.

O brando andar de passo forte e dúctilque se move no mais estreito círculoé dança de força à volta de um centroem que está aturdido um grande querer.

De onde a onde abre a cortina das pupilassilenciosa -. Então entra uma imagem,passa pela calma tensa dos membros –e cessa de existir no coração.

por Rainer Maria Rilke traduzido por Paulo Quintela, in Poemas, As elegias de Duino e Sonetos a Orfeu, Oiro do Dia, setembro 1983

*

De tanto olhar as grades seu olhar
esmoreceu e nada mais aferra.
Como se houvesse só grades na terra:
grades, apenas grades para olhar.

A onda andante e flexível do seu vulto
em círculos concêntricos decresce,
dança de força em torno a um ponto oculto
no qual um grande impulso se arrefece.

De vez em quando o fecho da pupila
se abre em silêncio. Uma imagem, então,
na tensa paz dos músculos se instila
para morrer no coração.

por Rainer Maria Rilke traduzido por Augusto Campos, in Coisas e anjos de Rilke. São Paulo: Perspectiva

*

Nos seus olhos cansados de olharem
as grades, já nada permanece.
É como se para além das grades,
só grades e mais grades houvesse.

Move-se tensa, em círculos
cada vez menores. Parece
uma dança em torno dum ponto,
onde a sua vontade arrefece.

De vez em quando abre uma
pálpebra. Então acontece:
uma imagem penetra essa tensão,
mas perece ao chegar ao coração.

por Rainer Maria Rilke traduzido por Jorge Sousa Braga in Animal Animal, Assírio & Alvim, fevereiro 2005, página 127

*

O seu olhar, perturbado no movimento entre grades,
perde-se e não consegue firmar mais nada.
Parece-lhe que a cercam grades aos milhares
e para além dessas grades, mundo nenhum.

As suas enormes patas desenham suaves círculos no chão,
uma e outra vez em redor do centro de si mesma,
lembrando um ritual impotente, uma dança
na qual uma vontade poderosa se retém, paralisada.

Por momentos as suas pupilas erguem-se brevemente,
sem qualquer som uma imagem atravessa o gradeamento
e percorre a tensão dos seus membros
até chegar ao coração e aí se interromper.

por Rainer Maria Rilke traduzido por Diogo Vaz Pinto in Os ossos do meu duplo, Língua Morta, outubro 2021, página 363

*

De tanto passar pelas grades, tanto se cansou
o seu olhar que nada mais nele guardou.
Para ela é como se mil grades houvesse
e por detrás das mil grades o mundo não estivesse.

O brando andar suaviza passos vigorosos,
e anda à volta em mínimo passo circular,
é como uma dança à volta de centros poderosos,
onde se encontra uma vontade acabada de anestesiar.

Apenas algumas vezes a cortina da pupila se levanta sem pressa
e sem qualquer ruído. Então uma imagem a atravessa,
percorre a tensão nos membros apaziguada em vão –
e deixa de existir no coração.

por Rainer Maria Rilke traduzido por Teresa Dias Furtado in Novos Poemas, Assírio & Alvim, fevereiro de 2023

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