Voltarão as escuras andorinhas
no teu beiral a fazer ninho,
e outra vez com as asas na janela
a brincar chamarão.
Mas aquelas que o voo refreavam
a tua beleza e a minha alegria a contemplar,
aquelas que aprenderam nossos nomes…
essas… não voltarão!
Voltarão as frondosas madressilvas
do teu jardim os muros a trepar,
e outra vez à tarde ainda mais bonitas
as suas flores se abrirão.
Mas aquelas, salpicadas de orvalho
cujas gotas víamos estremecer
e cair como lágrimas do dia…
essas… não voltarão!
Voltarão do amor em teus ouvidos
as palavras ardentes a soar;
teu coração do sono profundo
talvez despertará.
Mas mudo e absorto e de joelhos
como se adora a Deus ante o altar,
como eu te quis…; desengana-te
assim… não te amarão!
in Rimas, Relógio de Água, 1994, página 116
tradução PML
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Voltarão as escuras andorinhas
a em teu balcão seus ninhos pendurar,
e aos teus cristais com a asa novamente
brincando chamarão;
Mas aquelas que o vôo interrompiam,
teu rosto e o meu enleio ao contemplar,
aquelas que aprenderam nossos nomes…
essas não voltarão!
Voltarão as espessas madressilvas
de teu jardim as cercas a escalar,
e de tarde, outra vez, ainda mais belas,
as flores abrirão;
Mas aquelas, molhadas pelo orvalho
cujas gotas olhávamos rolar
e cair como lágrimas do dia…
essas não voltarão!
E voltarão do amor aos teus ouvidos
as palavras ardentes a soar;
teu coração do seu profundo sono
talvez despertará;
Mudo porém, e absorto e de joelhos,
como se adora a Deus em seu altar,
como eu sempre te quis… ah, desengana-te,
nunca te quererão!
tradução de Manuel Bandeira in Estrela da vida inteira [Poemas traduzidos], Editora Nova Fronteira, 25.ª edição, 1993, página 376