NUM tempo de informação fluída e transmitida à velocidade da luz, cada vez mais pessoas dependem da utilização de mapas estandardizados. Os mapas que são partilhados, coletivamente criados pelo público, podem estar continuamente disponíveis através do livre acesso da ´cloud´. Neste mundo digital, os mapas tornaram-se uma ferramenta comum, talvez sem qualquer limitação.
Atrás da personalização gráfica dos mapas digitais, encontra-se um mundo pré formatado e opaco de códigos e algoritmos que determinam a nossa leitura coletiva dos mapas. Nomes, cores, tipos de linha, fontes, projeções, sistemas de coordenadas, ferramentas de navegação e motores de busca fixam o enquadramento de acesso à informação geográfica. Através do Google Maps, Bing Maps, OpenStreetMaps e outros serviços online, podemos digitalmente visitar o nosso planeta de praticamente qualquer lugar. A ligação à internet é a única condição necessária. O uso de ferramentas de sobreposição automática de fotos, a fixação de um ângulo fotográfico, posição e tipo de câmara permitem o desenvolvimento de ferramentas de sobreposição automática de fotos que, aliado a um determinado contexto informativo, nos permitem criar (no momento desejado) imagens ou experiências de espaços desconhecidos. É apenas uma questão de tempo para que as experiências de quarta ou quinta dimensões sejam possíveis – artificial, digital ou real – contribuindo para as nossas memórias coletivas.
Enquanto urbanista, considero estas ferramentas incríveis, úteis e funcionais, estando ciente tanto das suas vantagens como das suas limitações. Para muitas pessoas o ‘Google urbanism’ pode ser o sonho de criança tornado realidade. Mas, poderá rapidamente tornar-se num pesadelo, especialmente se as grandes empresas de tecnologia apostarem no planeamento urbano como produto de ´big data´ e ´deep learning´, baseado em categorias pré estabelecidas de dados e definições. Consegue imaginar, num futuro próximo, a uniformização do urbanismo para o Planeta Terra ignorando a beleza, especificidade e riqueza dos lugares e das culturas locais? ‘Ter mapas’ ainda é sinónimo de controlo e poder. Mapear é um ferramenta poderosa e significante para viajantes, exploradores, geógrafos, planeadores, historiadores, investigadores, políticos e cidadãos.
Cada mapa conta uma história. Cada mapa ilustra a construção gráfica da história de uma área específica sendo a mensagem formada pela sua legenda. Esta história pode ser clara e ampla, frequentemente representado leituras institucionais do território. No entanto, existem mapas secretos ou de acesso limitado que, pelo seu alto valor económico e estratégico, escondem histórias usadas em negociações, lobbies industriais e estratégias políticas. Os mapas não nos contam a história completa. Representam uma parte ou uma versão da realidade, produzidos por uma perspetiva ou interesse específico. Todos os mapas lidam com restrições e abstrações, mostrando-nos a cada passo uma realidade construída do passado, no presente ou uma projeção do futuro. Compreender as limitações e os pontos de vista de cada mapa é parte da descoberta das suas histórias inspiradoras que, geralmente, nos são invisíveis.
The beauty of limitations
IN time that information is fluid and take the speed of light, more and more people relay on standard maps. Maps that are shared, collective created by the crowd, and always available by the open source of the cloud. In our digital world, maps became a common tool. Some would even say even without limitation.
Behind that somehow personalised graphical image of digital maps, there is an un-transparent preformatted world of algorithms and codes that setup our collective readings of maps. Names, colours, line types, fonts, projections, coordination systems, navigation tools and search engines setup the framework where we access geographical information. Thanks to Google Maps, Bing Maps, OpenStreetMaps, and other online services, we can visit digitally our planet from practical everywhere. The only needed condition is an internet connection. Thanks to the standard photographic angle, camera position and type, automatic photo merging tool and given contextual information we can – on demand – create images or experiences of unknown places. It is only a factor of time to wait for a four or five dimensional experience. All artificial, digital and real contributing to our collective stories.
As an urban planner I love these tools, knowing their strengths and also their limitations. For many people ´Google urbanism´ could be boy´s dream that partially became real. But it might be turn into a nightdream, especially if large technological companies are betting on urban planning by using big data and deep learning, all based on preformatted data categories and definitions. Can you image, in the near further, a standardisation of urbanism for planet Earth, ignoring the beauty of local culture with their richness and specificity? ´To own maps´ is still synonym to have control and power. Mapping is a strong and meaningful tool for travellers, explores, geographers, spatial planners, historians, researchers, politicians and citizens.
Every map tells a story. Every map is a graphical constructed story of a specific area, limited in space and graphical expression, where its legend forms the message. This story can be clear and open, representing often institutional readings of the territory. But some maps are limited accessible or secret because of their strategic and economical value, hiding unknown stories that are used for negotiations, industrial lobbies and political strategies. Maps do no tell us the whole story. Maps represents one part or one version of reality, often from on one perspective or interest alone. Every map deals with restrictions and abstractions, showing us each time a constructed reality of actual times, of our past and possible future. Understanding the limitations and the view point of every map forms part of the discovering of inspiring stories that lays often beyond its preformatted reading scope.
SOBRE O AUTOR: Daniel Casas-Valle (Utrecht, 1973) é urbanista, investigador e cidadão do Porto. Atualmente está ligado ao Centro de Estudos de Arquitectura e Urbanismo (Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto), onde elaborou seu doutoramento. Também desenvolve prática em urbanismo na Urban Dynamics (www.urbandynamics.info)