A primeira autoria é a primordial: a da natureza… E de que é que nos fala ela? Da dança das plantas com os insectos, por gerações das gerações; das cores que atraem; das estratégias de polinização… É uma autoria que nos vem desde os primórdios dos tempos e que está aqui, novamente, a cada início de primavera.

Surge simultaneamente uma outra autoria, a da luz… fundamental mas, muitas vezes, sem direito a palavra quando falamos do olhar. Um olhar que contempla mas que se esquece desse suporte tão importante. A flor pode parecer outra flor de acordo com a perspectiva, conforme o ângulo da incidência da luz e também da sua intensidade: flores dentro de flores dentro de flores.

Depois o tempo… As pétalas a cair, a súbita decadência da carne vegetal. O caule que se torna menos húmido e é tomado de uma progressiva rigidez, a folha que adquire um verde esmaecido. O que fazer perante o que se torna ausente? E que estranha forma de se tornar ausente: algo que se recolhe no interior de si mesmo, sem se saber para onde vai, mas irreversivelmente… Daí gestos desesperados: as pétalas secas no interior dos livros… ou gestos apaziguados: as mesmas pétalas no interior dos mesmos livros como recordação de emoções prazerosas.

Imobilização da beleza: as flores de plástico, anos depois esquecidas em montras, em lugares esquecidos de velhas casas. São ao mesmo tempo belas e patéticas: como se poderia imobilizar assim um instante? O instante é tudo aquilo que se escapa por entre os dedos mas fica na alma. Daí a dificuldade das imagens que contemplamos: a conjugação de tudo isto, que dissemos, com a cor, com a simplicidade.

Ficamos quietos, perante as imagens: a fotografia é também uma outra autoria primordial.

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