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A má fama dos ateus

A má fama dos ateus

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UM dos meus amigos, sacerdote católico, afirma que eu não sou ateu. No seu entender os ateus são más pessoas porque serão destituídos de sentimentos fraternos e incapazes de promoverem atitudes altruístas. E como me conhece bem, sabe dos meus afectos, interesses culturais, atitudes cívicas e respeito pelo próximo, e por isso considera que eu não posso ser ateu! É um preconceito que não é só seu. Há imensa gente a pensar assim.

A desacreditação dos ateus pertence ao filósofo Platão (427 aC) que, retomando a velha questão de Protágoras “o homem é a medida de todas as coisas”, transformou-a e declarou “ser Deus a medida de todas as coisas”. Mas foi mais longe. Puniu os ateus decretando-lhes três penas: para os ateus “inofensivos”, cinco anos de internamento numa casa de correcção, onde os membros do Conselho Nocturno os visitavam, reflectindo com eles acerca da incorrecção das suas condutas. Os ateus que praticassem heresias mais graves recebiam pena maior, e os reincidentes eram condenados à morte.

A palavra “ateu”  é muitas vezes usada como sinónimo de “mal comportado”, na convicção de que todos os praticantes de credos religiosos são bondosas pessoas incapazes de uma ofensa ao próximo, e que passam todos os dias das suas vidas a derramarem amor a torto e a direito!

Relativamente a comportamento cívico, o ateu é tão bem (ou tão mal) comportado quanto o crente. A diferença está em que o ateu se considera um mamífero primata, um ser gregário que vive em comunidade assumindo as suas acções responsavelmente perante a Justiça, a lei dos homens, única entidade a que tem de prestar contas pelos seus actos.

Depois da morte o ateu fina-se como qualquer outro ser vivente, animal ou vegetal. Para um ateu a palavra morte tem o significado de morte autêntica, que é o fim radical e perene daquela vida, negando uma qualquer outra vida substituta ou continuada noutro estágio. A eternidade apenas pertence à memória histórica, e mesmo essa não é perene. Pelo contrário, o crente diz ter sido feito por Deus “à sua imagem e semelhança” (e afirma-se humilde?!…), que deve respeitar Deus acima de todas as coisas (logo, antes do respeito devido ao próximo, à Natureza e a si mesmo) e que depois de morrer viverá num doce céu (se tiver tido bom comportamento em vida, sendo que este bom comportamento se resume à adoração de Deus conforme o catecismo recomenda) ou num azedo inferno, se merecer castigo!…

Mitologia pura vazada de registos arqueológicos para os cérebros dos crentes fieis e tementes a Deus, mas que, não raramente, se esquecem do respeito devido ao próximo (cujos direitos atropelam), à Natureza (agredindo-a em proveito próprio)… e a si mesmos (actuando de modo a serem considerados mais próximos da imagem de animais bestializados, do que humanizados. Veja-se o que membros do auto-denominado “Estado Islâmico” fazem, alegadamente, em nome de Deus!…).

Texto de Onofre Varela que não escreve segundo o novo AO e foto obtida pelo telescópio espacial Hubble

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