A 15 de Julho de 2013, Arménio Martins, um homem de 50 anos com perturbações mentais, saiu de casa para o habitual passeio diário que fazia por Modelos, em Paços de Ferreira. Nunca mais voltou. Logo que se apercebeu da ausência de “Meninho”, como é carinhosamente tratado, a família envolveu-se numa busca incansável, mas todas as informações que lhe foram chegando do seu paradeiro revelaram-se tardias, falsas, inconsequentes.
20 meses depois do dia fatídico, Joaquim Martins e Maria Antónia Leal, ambos com 76 anos, não se dão por vencidos. Continuam a distribuir cartazes com a cara do filho um pouco por todo o lado. Sempre na esperança de que algo possa mudar uma vivência marcada pela angústia. “Todos os dias da minha vida peço a Deus para que, pelo menos, apareça o corpo. Algum desespero desaparecia”, admite Joaquim Martins.
Novo medicamento deixou Arménio desorientado
A família Martins sempre viveu em Modelos e foi nesta freguesia que os 14 filhos de Joaquim e Maria Antónia cresceram. Vários deles emanciparam-se e criaram raízes nas redondezas, mas cinco deles permanecem – por razões de saúde – em casa dos pais. Um desses é Arménio, um homem agora com 50 anos e que sofre de perturbações mentais. Apesar da doença, “Meninho” sempre apresentou alguma autonomia que lhe permitia passear sozinho pela freguesia pacense. “Saía da cama e passava a manhã na rua. Voltava para almoçar e ia novamente passear. À noite estava outra vez em casa”, recorda o pai.
Joaquim Martins garante que, em cinco décadas, apenas numa ocasião o filho perdeu a noção do tempo e do espaço e não regressou a casa quando o sol desapareceu. “Ficou desorientado, mas foi encontrado no dia seguinte”, refere.
Porém, a 15 de Julho de 2013, a história não teve o mesmo final feliz. Arménio Martins fez o habitual passeio mas, no fim, não voltou para junto da família. Nem foi resgatado nas horas seguintes. O pai não sabe o que aconteceu, mas relaciona o desaparecimento com a toma de um novo comprimido. “Dez dias antes, ele foi a uma consulta de psiquiatria no Hospital Padre Américo e a médica receitou-lhe um novo medicamento, que o deixou um pouco desorientado”, frisa.
Poderá, na sua opinião, ter sido essa desorientação que manteve “Meninho” longe de casa. Mais difícil de perceber é, para o pai, o facto de, tantos meses depois, não haver sinais do paradeiro do filho. “Ele foi visto, dias depois de desaparecer, num café em Lordelo [Paredes]. Pediu para beber um copo de água. A seguir, um vendedor disse que um homem parecido com o meu filho lhe pediu ajuda para regressar a casa. Estava em Gandra, mas o senhor só o reconheceu quando, mais tarde, viu o cartaz num café. Desde então, nunca mais tivemos informações credíveis”, recorda Joaquim Martins.
Pai estranha ausência de qualquer pista
Apesar dos 76 anos, Joaquim e a mulher não se resignam com o desaparecimento do filho. No carro há sempre uma pilha de cartazes que ostentam a fotografia e os dados biográficos de Arménio. Cartazes que o pai vai distribuindo por cafés, lojas e qualquer tipo de estabelecimento com uma porta aberta ao público. Os panfletos onde é descrita a roupa usada por “Meninho” também são colados em postes que iluminam os passeios das estradas da região. “Faço isto todas as semanas. As pessoas são simpáticas e deixam-me colocar os cartazes, mas passado algum tempo tiram-nos. Eu compreendo que o façam, mas por isso é que vou lá colocar outro cartaz”, justifica Joaquim.
Os progenitores do homem desaparecido também participaram num programa televisivo que, mais do que ajudar, introduziu muito ruído na investigação que decorria. “Recebi dezenas de telefonemas do país todo. Diziam-me que o meu filho estava no Porto, em Aveiro e até no Algarve. Porém, nada se confirmou”, lamenta.
Os contactos com a GNR e a Polícia Judiciária revelaram-se, de igual modo, infrutíferos. “Só me dizem para ir aguardando”, diz o septuagenário que estranha a ausência de qualquer pista. “Nem o corpo aparece”, reforça.
Mas com ou sem pistas, Joaquim Martins tem uma certeza: desistir não foi, nem nunca será uma opção. “Não perco a esperança. Tenho uma fé muito grande que hoje ou amanhã o meu filho apareça”, sustenta entre lágrimas que tenta evitar.
Por isso, vai continuar a distribuir os panfletos com a fotografia de Arménio… e a rezar. “Todos os dias da minha vida peço a Deus para que, pelo menos, apareça o corpo. Algum desespero desaparecia”, finaliza.
Por Roberto Bessa Moreira publicado in Verdadeiro Olhar